Considerada símbolo do Estado, a erva-mate tem cerca de 600 espécies no mundo, 220 nativas com ocorrência na América do Sul e 63 no Brasil. O hábito de tomar chimarrão faz a planta ter importância cultural, econômica, ambiental e medicinal, especialmente na região Sul do país. Muitos ervais, entretanto, apresentam baixa qualidade genética e alta heterogeneidade, com mudas produzidas a partir de sementes. Conhecendo esta realidade, um grupo de pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Agronomia e do curso de Agronomia da Universidade de Passo Fundo (PPGAgro/UPF) está desenvolvendo estudos com a finalidade principal de indicar mudas de alta qualidade e produtividade, aperfeiçoando a cadeia produtiva. Para as pesquisas foi escolhida a espécie Cambona 4, caracterizada por produzir um chimarrão de sabor mais suave.
O Dr. Alexandre Augusto Nienow coordena as atividades. O pesquisador explica que a Cambona 4 tem mudas produzidas a partir de sementes coletadas em uma planta feminina e as flores são polinizadas por uma única planta masculina. As mudas selecionadas são mantidas isoladas de outras plantas da mesma espécie em Machadinho. “A restrição do cruzamento resulta na implantação de ervais mais uniformes, porém com certo grau de variabilidade persiste. A propagação vegetativa por estaquia, ou seja, o enraizamento de ramos destacados das plantas se constitui em uma alternativa para uniformizar os ervais, pois as características da planta matriz são reproduzidas nas mudas”, justifica.
Estaquia de erva-mate Cambona 4
Entre os trabalhos em desenvolvimento está o da doutoranda Valesca Hettwer, intitulado “Estaquia da erva-mate Cambona 4: enraizamento, reação bioquímica ao ácido indolbutírico e desenvolvimento de mudas no campo”. Com o estudo, iniciado ainda no mestrado, Valesca pretende estabelecer um protocolo de produção de mudas de erva-mate por estaquia, método de reprodução assexuada de plantas, a partir da seleção de matrizes que representem o padrão Cambona 4, com elevado potencial genético para o enraizamento. A pesquisa deseja, igualmente, confirmar que o desenvolvimento no campo de mudas obtidas por estaquia é semelhante ou superior, na comparação com mudas originadas de sementes.
No erval experimental, instalado junto ao Centro de Extensão e Pesquisa Agropecuária (Cepagro) da UPF, Valesca já começa a perceber os resultados, tanto relacionados aos clones implantados quanto às sementes. “Algumas mudas selecionadas estão se sobressaindo sobre as plantas implantadas a partir de sementes. A semente gera variabilidade, entretanto, se escolher uma planta matriz com as características desejadas, posso fazer a estaquia e obter plantas melhores. Acreditamos que essa técnica esteja sendo promissora”, observa.
Enraizamento
Outro aspecto da pesquisa diz respeito à influência do ácido indolbutírico - fitorregulador que estimula o enraizamento - na sobrevivência e retenção foliar das estacas e tenta elucidar o possível efeito fitotóxico desse ácido nas mudas. Conforme a coorientadora, Dra. Jurema Schons, em erva-mate, a estaquia não é um processo fácil, tendo em vista que a cultura é, de um modo geral, de difícil enraizamento. “O ácido indolbutírico (AIB) é um fitorregulador que, em muitas espécies, constitui-se em uma alternativa viável para estimular o enraizamento. Porém, nem sempre o tratamento garante uma resposta satisfatória quanto a sobrevivência e formação de raízes. Para esclarecer se o AIB apresenta efeito fitotóxico em estacas de erva-mate será determinada a atividade da peroxidase, uma enzima utilizada como indicadora de estresse”, considera, explicando que serão também determinados os teores de proteínas solúveis e de açucares totais, a fim de avaliar se o tratamento interfere de alguma forma no metabolismo da estaca, dificultando a expressão do potencial genético quanto à capacidade de formar raízes.
Diferentes benefícios
Nienow destaca, ainda, que com o conjunto de estudos desenvolvidos na UPF, busca-se disponibilizar a técnica da estaquia aos viveiristas, bem como indicar matrizes de Cambona 4, aperfeiçoar a cadeia produtiva da erva-mate, mediante a produção de mudas com elevada qualidade da matéria-prima e produtividade, aumentar a produção, para acompanhar a elevação do consumo e exportação, agregar renda ao produtor, estimular o cultivo de uma espécie nativa, bem como estimular o uso da erva-mate em Sistemas Agroflorestais (SAFs), Reserva Legal (RL) e Áreas de Preservação Permanente (APPs).