Entre abril de 2008 até essa data são quase quatrocentas crônicas, a maioria de caráter introspectivo e com dados autobiográficos que estampam minha origem social, o apreço pela unidade familiar, minhas desesperanças sobre os políticos vendilhões da turma do nunca antes nesse país, minhas ideias espíritas, meu desiderato ou não desiderato religioso manifestado como agnosticismo e sobre as vivências com os pacientes, colegas, estudantes, enfim. O cronista se expõe na auto-revelação e se submete, em regra, a mercê de críticas.
Não foi diferente após a última crônica em que enunciei assim, por alto, algumas peculiaridades que tornam nossa amada cidade diferente ou excêntrica., ou igual a tantas outras Sucupiras do Brasil. Não faltou gente a criticar o fato ter esquecido Eloi Schleder ou Jussara Rosa como expoentes atletas de rua; de China, campeão do mundo pelo Grêmio em 1983; do jornalista Roberto DÁvila, ali do boqueirão; do acontecimento do padre morto a facadas em um cinema e da crise entre os motoqueiros e a Brigada Militar, no caso Clodoaldo Teixeira. Também recebi repreensões por ter escrito sobre o noticiado envolvendo a Petrobrás e a gigante BsBios e de Maria Elisabete, exatamente no dia do aniversário de sua morte. Ainda, não teria destacado o fato de sermos chamado de Chicago dos Pampas em outras eras; da capital dos buracos como em todas as eras. Houve quem me execrou por ter esquecido o bar Roda Viva, junto ao Caixeiral, da Cantina Napoli e do Gageiro, da churrascaria do Lago e da Batalha do Pulador
A maioria dos fatos e nomes citados não foram vivenciados pelo signatário. Servi-me do noticiado pela Imprensa e pelas eternas conversas de bastidores. Não tentei diminuir de forma alguma a imagem de Maria Elisabete e nem ofendido crenças alheias. Apenas escrevi que temos até Santa Milagreira, sem entrar no mérito da questão. Também não pretendi proteger a atual administração municipal sobre a questão dos buracos das nossas vias urbanas e do eterno abandono do Estádio Fredolino Chimango, local que tanto implorei melhorias quando comandava a cidade a gestão anterior Não, não sou partidário de nenhuma legenda pelo simples fato de não ser seduzido a ideologias de grandes grupos, razão também que me afasta de religiões ou manifestação de fé nas divindades.
Agradeço o carinho dos leitores, principalmente pelas críticas à crônica da desnudez, a que fez com que olhássemos o espelho de parte de nossa sociedade e estampasse a excentricidade quase folclórica da cidade que amamos, sob um ângulo misturado entre o leve humorismo e o extremada galhofa, estilo Barão de Itararé.
Lembrei de um passagem jocosa em que o inesquecível Pedro Alexandre, tomando seu cafezinho no Bar do Turis Hotel, comunicou a Raul Lângaro, que por ali passava, que estava prestes a lançar um livro de memórias. O simpático Raul retrucou dizendo que se isso fosse verdade mudaria imediatamente para Buenos Aires. Passo Fundo, como em todas as cidades, tem coisas que não podem e não devem ser escritas, apenas murmuradas, entre uma cachacinha e outra.