Quando não estamos bem, do gato ao cachorro da casa, passando por filhos, amores e serviçais, ninguém escapa a nossa tendência de implicar. É quase uma “habilidade” natural que temos de nos livrar de nosso mal estar, atribuindo aos mais próximos a responsabilidade de nossa insatisfação.
Este é um fato corriqueiro que acontece sem maiores danos para os dois lados, para quem implica e para quem é recrutado como a “bola da vez” para suportar.
No entanto existem graduações e tolerâncias. Quando o problema persiste por muito tempo, sem que a pessoa tenha a capacidade de compreender que o mal estar é dela, os atos destrutivos começam a tomar dimensões que afetam os dois protagonistas da cena.Uma das feições mais comuns que temos notícia é a inveja. Melanie Klein, uma psicanalista inglesa, foi quem melhor diferenciou a inveja de outros sentimentos que são frequentemente confundidos, como o ciúmes. A inveja é o desejo de destruição daquilo que supomos que outra pessoa tem a mais e desfruta, sem compartilhá-lo conosco. Esse desejo de que o outro não tenha o que ele tem, ou de destruir o que o outro tem, pode incluir objetos ou capacidades, como a criatividade por exemplo. Já o ciúmes envolve relações triangulares e fala mais do temor de perder o que se tem. De fato, não se trata da mesma coisa.
Na época que estudei Klein, costumava pensar que o problema da inveja não detectada era mais do invejoso, já que este terminava por se impedir atos criativos por temer que os outros o invejassem da mesma maneira que ele invejava. Já com Lacan aprendi que aspectos imaginários podem ter consequências bem reais,uma vez que as pessoas agem com base na sua imaginação, e muitas vezes acreditam mesmo que o seu mal estar se deve ao outro, que cuja existência faz mal a ele. E faz mesmo porque lembra a toda hora o que ele não conseguiu na vida, mas isto não é reconhecido. É detectado somente a ira que o outro provoca. E, é claro, não estou falando do exército de excluídos que muitas vezes não tiveram oportunidades. Falo daqueles que tiveram escolhas, mas que não querem se responsabilizar por suas más escolhas, responsabilizando assim aos outros.