OPINIÃO

Saulo e Barry

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O natal traz uma inexplicável sensação de tristeza ao mundo dos adultos. Porque quando crianças percebemo-lo como possibilidade de recompensa e poderemos ser merecedores do presente do Papai Noel no dia agendado em homenagem ao Papai do Céu. Desde cedo temos a mentalização da mercantilização desta data. É uma espécie de realização do ideal iluminista, o da contemplação dos desejos como forma de realização pessoal. Eram iluministas os hippies e os yuppies, fazer o que dá na telha para satisfazer as egolatrias. Já como adultos deveríamos estar mais atentos ao ideal estoico, o controle dos desejos materiais e valorizar mais o metafísico ou as amenidades da vida. Saulo de Tarso (28 anos) percorria os duzentos quilômetros entre Jerusalém e Damasco teria tido um insight, ou estalo ou um aviso e se converteu em Paulo e passou a divulgar a nova lei, a de Jesus, homem que não conheceu pessoalmente. Foi o grande marqueteiro da ordem religiosa que pregava o direito de todos, gentios e judeus, a viver preceitos morais e éticos e a sonhar num plano universal de bonança na casa do Pai, em outro plano. Pouco tempo depois o Império Romano devastou a Palestina mas, a mensagem já havia sido divulgada. Muitos consideram que o que temos hoje não seja o Cristianismo e sim o Paulinismo ou a interpretação de Saulo sobre a mensagem do Nazareno.

Na palestina daquela época faltava quase tudo. Faltava água, alimentos, paz e dignidade. Havia o povo oprimido e o controle opressor de Roma. Era corrente a tristeza e talvez um insight poderia trazer alento aos mansos e aos que sofrem.

Barry Stroud é um filósofo canadense que participou de um encontro de filósofos em Campos do Jordão recentemente. Entre muitas considerações discorreu sobre os rumos tomados por boa parte da juventude e enfatizou o carreirismo, individualismo e materialismo como a nova ordem, a nova lei. Focamos nossas energias para ganhar mais e mais dinheiro, transformamos nossas vidas em uma imensa carreira e, por conseguinte, a busca frenética pelo dinheiro, ou seja, natal das crianças ou a eterna espera do presente de fim-de-ano. Afinal, o adulto materialista apenas é uma criança que trocou os brinquedos lúdicos da infância por outros, pelos carrões, mansões, luxúrias. Barry afirma que a vida de agora é mais rica materialmente e ao mesmo tempo mais pobre porque irreflexiva e não percebemos a vida e a natureza como elas realmente são.

A tristeza da época de natal deve ser pela constatação de que ainda não tivemos o insight que Saulo teve e que,talvez, a Palestina, carente de tudo, ainda esteja impregnada dentro de nós, no nosso mundo extremamente comercial.

 

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