OPINIÃO

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Dia 17 de dezembro 2014, São Paulo, caminho pelas ruas de Santa Cecília e Higienópolis e percebo, ainda uma vez, como essa cidade impregnou a minha história. Pela tia que aqui morou nos anos 60, por Dudu-Ademir, Rivelino-Paulo Borges, Gerson-Pedro Rocha, Pelé-Coutinho, por Cabinho-Enéias, pela Rua Bariri, por Rolando Boldrin, Hebe-Moacir Franco, Plínio Marcos, pela Rede Tupi, por Geraldo Vietri, por Fiori Giglioti, por Adoniran e por Hélio Ribeiro. Aqui, na rua Albuquerque Lins morou Roberto Carlos, segundo Paulo César de Araújo (O Rei e o Réu).

Sento-me ao bar e segredo-me com Sandra das reminiscências. Ela, compassiva, cúmplice de quase tudo e que, por tal, devo dez vidas de agradecimentos, ouve e, candidamente, estimula-me a falar mais e mais. E desce mais uma cerveja e mais outra, até que meu coração passa a dominar a razão. Acho que sou meio paulista, meio carioca, meio baiano, meio catarina, meio tudo.

Ah, São Paulo de Silvio Santos, de Nelson Motta, terra da garoa que traiçoeiramente fez-se ausente nesses últimos meses permite que faça uma análise do ano, enquanto ouço hits da Antena 1.

Entre as coisas que me faltaram nesse ano que acaba o que mais me dilacera é o fato de não ter convivido mais com as pessoas que amo e admiro. Por mais tempo que passemos com os filhos parece que não é o bastante e que precisaríamos de mais duas ou três vidas para a compartilhamento adequado. Os amigos...ah, os amigos, são fundamentais porque emprestam o verniz que acreditamos ter, companheiros de jornadas boas e más, sonhamos os sonhos afins para a pretensão subjetiva de que vivemos a vida boa, de Clóvis de Barros Filho, outro paulistano, a vida que vale a pena viver. É preciso urgentemente viver mais os amigos.

Essa, a vida boa, é a vida vivida por viver, pela possibilidade de escolher e não por obrigação, a vida pelo prazer, pelo diletantismo. Quanto dessa vida dispus neste ano que termina ? Quanto de minha vida valeu a pena ter vivido ?

Boa vida ou Boa era o apelido de Tito Marchiori, amigo querido que nos deixou precocemente na semana passada. Era de uma intensidade monstruosa e seu sorriso lembrava Juscelino, o peixe-vivo. O sorriso sedutor, o otimismo de suas palavras, o sorriso permanente e o charmoso quase-gaguejar lembrava meu pai. Homens dessa intensidade nascem a cada cem anos, homens dessa qualidade fazem falta em todos os tempos desde quando a humanidade se sabe disso, homens dessa magnitude nasceram com o predicado da eternidade. E, é por isso e , também por isso, caro Tito, que de ti não me ouso despedir-me porque é certo que deverei encontrá-lo, logo ali, adiante, para aprender mais sobre a vida boa, a vida das garoas, a vida prazerosa... a vida que vale a pena viver.

 

 

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