OPINIÃO

O que a gente perde com a idade

Por
· 1 min de leitura
Você prefere ouvir essa matéria?
A- A+

Veríssimo sabiamente, como de costume, referiu, certa feita, que dentre tantas coisas que a gente perde com o avançar da idade, uma delas é a perplexidade. Quer dizer, a partir de certo momento nada nos parece surpreender. Por exemplo, o ataque dos fundamentalistas na França em nome de respeito às religiões ou fé, como se houvesse um manto de justificativa para qualquer ato de barbárie contra a vida das pessoas. Outro exemplo, cada dia a Folha e a Veja estampam manchetes sobre falcatruas envolvendo gente do governo e sobre irregularidades sobre os ministros recém nomeados. A reação do pessoal do comando não é de negar tais irregularidades e, sim, desqualificar os denunciantes. Veja você, há pouco mais de cem anos a gente do glorioso Rio Grande degolava inimigos em nome da cor dos lenços que estampavam pescoços.

Estamos vivendo coletivamente a perda da perplexidade. Pensava nisso após um leitor - amigo, inteligente e provocador, ter enviado um e-mail ao signatário com os seguintes dizeres: você que fica escrevendo essas crônicas fajutas, quero ver se tem coragem de comentar essas roubalheiras denunciadas na TV que seus colegas da máfia de branco estão impondo aos convênios e ao dinheiro público. Referiu, ainda, que somente falo mal dos políticos e que aparentemente os médicos parecem ser anjos. Se assim fossem anjos, os médicos, o nome da cooperativa deles não deveria ser unimed e sim unianjos, afirma.

Os delitos que antigamente estarreciam a sociedade são cometidos pelos homens travestidos de togas, sotainas, gravatas. Usam as profissões para locupletação, uns na vida civil, outros em órgãos oficiais e outros ainda de forma solerte tentando dar um verniz oficial ao descaminho. É imoral, mas é legal. Se não nomear minha gente aos cargos, que é a gente em que mais confio, quem nomearia?

Olha, Thomas Hobbes descreveu que o homem é o lobo do homem e Rosseau afirmou que o homem é um ser bom, em princípio. Nem anjos, nem demônios. Os homens, cada um deles, tem suas peculiaridades. Dizem até que o que falta para adentrar ao desvio do ganho fácil é a oportunidade. Falam que basta dar poder a alguém que as asas do enriquecimento abrem-se como mágica. Penso que às irregularidades provadas resta o ressarcimento e cadeia. Mas depois que Sérgio Sombra, do caso Celso Daniel foi solto, acredito que punição a médicos infratores só acontecerá para jogo de cena. Ainda continuamos o país da impunidade, do jeitinho e agora, oficialmente, o país em que seus habitantes perderam a perplexidade.

De qualquer maneira quero dizer sem pestanejo: temo de olho em vocês.

 

Gostou? Compartilhe