OPINIÃO

A Revolução Federalista e o Sertão do Alto Uruguai (Final)

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Relatório destinado a Carlos Torres Gonçalves, datado de julho de 1907 e assinado por Lindolpho Siha, descreve périplo realizado pelo signatário na região, onde dois anos depois teria inicio a Colônia Erechim. A dificuldade já aparece no inicio da empreitada, quando o grupo conduzido por Lindolpho não encontra a “barra do arroio Facão”, sem que ninguém soubesse informar a respeito do mesmo. Surpresa maior teria o chefe da comissão ao constatar o grande número de habitantes espalhado na região. Ao alertar para a ocupação desordenada, registra que recebeu de Diogo da Silva Rocha, documentos que provam o direito a propriedade, e opina, no entanto, que o mesmo não lhe dão direito algum a essas terras.

No mesmo documento descreve a precariedade dos caboclos que habitam a região: “Visitei, vi oitenta e tantas posses que estão no percurso do reconhecimento. Nenhuma delas deixa de mostrar o espetáculo triste da devastação. Por toda a parte há provas do modo criminoso como se emprega o machado. Pode-se mesmo dizer que nestas passagens é esse um instrumento agrícola obrigado, não sendo o único, sendo o fogo seu complemento.”. Ao declara que não é possível continuar tal situação, é contundente: “é absolutamente preciso, e quanto antes limitar a propriedade dos posseiros, sem isso estarão sempre em conflito pela invasão de terras que supõe serem suas”.

A necessidade de ocupar o território situado ao note do município de Passo Fundo, havia levado o presidente do Estado, Carlos Barbosa Gonçalves, a criar a Colônia Erechim, em seis de outubro de 1908, atendendo solicitação do Engenheiro Carlos Torres Gonçalves, Diretor de Terras e Colonização. Sua instalação vai se dar a partir de outubro do ano seguinte, no quilometro 4,5 a leste do km 56 da ferrovia, onde está hoje à cidade de Getúlio Vargas, após o trabalho de derrubada da floresta, numa área de 500 hectares, cortada pelo Rio dos Índios. A Colônia Erechim, como passa a ser denominada, esta sob a jurisdição ao município de Passo Fundo, conforme Ato n.º 167 de 1910, designado 8º Distrito, e tendo como subintendente o guarda florestal Dinarte Soares de Oliveira.

Novamente, os caboclos, que coabitavam com os índios Coroados, precisam se retirar da região. Desta feita a causa não será a revolução, mas o projeto oficial do governo do Estado. A dificuldade das forças republicanas no controle da região no período em que ocorre a Revolução Federalista, e mesmo de localizar fugitivos da Justiça que escolhem o Sertão como abrigo, talvez tenha sido outra causa da empreitada. Do mesmo modo, a possibilidade de um novo confronto entre governo e oposição, o que de fato irá acontecer no ano de 1923, entre borgistas e assisistas. Os caboclos que irão se arranchar no outro lado do rio Uruguai, no Estado de Santa Catarina vão ter logo adiante outro revés: a Guerra do Contestado, que vai manchar de sangue o oeste catarinense entre os anos de 1912 e 1916. 

Bibliografia:

- ÁLBUM DO MUNICÍPIO DE ERECHIM: Prof. João Frainer (organizador), Livraria e Tipografia Modelo, Erechim 1936.

Illa Font, Juarez Miguel. Serra do Erechim: Tempos Heróicos, Erechim: Empresa Gráfica Carraro Ltda., 1983.

Oliveira, Francisco Antonino Xavier, Annaes do Município de Passo Fundo. Coord. Por Marilia Mattos (e outros). Passo Fundo, Gráfica e Ed. Universidade de Passo Fundo, 1990.

 

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