Na última semana, um goldfish de 10 anos passou por uma complexa cirurgia realizada no Hospital Veterinário da Universidade de Passo Fundo (HV/UPF). Pela raridade do procedimento, a ação ganhou destaque em vários veículos de comunicação do estado e do país. O que poucas pessoas sabem é que o ilustre e agora famoso peixe dourado já tem história na Instituição pela sua participação como importante elemento de controle e peça chave no desenho de pesquisas de destaque realizadas por professores e acadêmicos, uma delas, inclusive, publicada na renomada revista Nature Scientific Reports.
Bastante utilizada em pesquisas de comportamento animal, a espécie Carassius auratus, ou goldfish, tem expectativa de vida de mais de 20 anos. Em dois artigos publicados em 2014, o peixe que ora se recupera do procedimento cirurgico foi um dos colaboradores para a pesquisa sobre comunicação química de risco de predação. No espaço de publicação on-line internacional PlosOne, o goldfish contribuiu para a produção do artigo Alcohol Impairs Predation Risk Response and Communication in Zebrafish e na Nature Scientific Reports do Grupo Nature, o peixinho foi tema do artigo Chemical communication of predation risk in zebrafish does not depend on cortisol increase.
Para a realização das pesquisas, o goldfish atuou como um importante elemento de controle da metodologia de exposição a predador, justamente por não ser um predador. Assim, a equipe pode confirmar que os zebrafish objetos dos estudos identificavam o predador e não apenas um peixe grande. De acordo com o vice-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação, Leonardo José Gil Barcellos, sem a participação do goldfish a credibilidade nos resultados obtidos seria menor.
Embora o procedimento não seja inédito, poucos locais conseguem realizar tal feito, o que se justifica pela complexidade que tem um procedimento cirúrgico e anestésico de peixes, principalmente desse tamanho; bem como pela exigência de apurado e específico conhecimento da espécie, farmacologia, anatomia, fisiologia, anestesia e cirurgia. A intensão da cirurgia, além de desenvolver técnicas e colocar em prática os conhecimentos adquiridos, foi a de proporcionar qualidade de vida ao nobre colaborador. De acordo com Barcellos, a UPF tem realizado pesquisas importantes e relevantes para a sociedade. “Ao entendermos as relações biológicas e ecológicas entre as espécies, como a relação presa-predador, podemos avaliar os impactos da poluição e de mudanças climáticas sobre os ecossistemas aquáticos”, explica.
O peixe também foi objeto de pesquisa em trabalhos publicados em 2007 e 2010 em revistas renomadas como a americana Aquaculture e a britânica Journal of Fish Biology.
Além do professor Leonardo J. G. Barcellos, colaboraram nos artigos publicados Gessi Koakoski, João G. S. da Rosa, Daiane Ferreira, Rodrigo E. Barreto, Percília C. Giaquinto, Gilson L. Volpato, Thiago Acosta Oliveira, Luiz Carlos Kreutz, João Gabriel Santos da Rosa, Murilo Sander de Abreu, Ana Cristina Vendrametto Giacomini, Ricardo Pimentel Oliveira, Michele Fagundes e Angelo Luis Piato.
A cirurgia
O procedimento realizado com o peixinho dourado contou com uma equipe formada por nove profissionais. Agora, os cuidados do grupo responsável pelo tratamento são para evitar que o tumor volte a se desenvolver. Para isso, será utilizado um quimioterápico. Segundo a professora do curso de Medicina Veterinária e responsável pela equipe, Michelli de Ataide, a medicina veterinária tem aprimorado as técnicas justamente em função da diversidade de pacientes, desde grandes mamíferos, como cavalos, por exemplo, até um peixe ou uma aranha, no intuito de garantir o melhor tratamento disponível.