Um dos legados da II Guerra Mundial (se é que se pode falar em legado, pelo menos positivo, de qualquer guerra) foi a dispersão, nos programas de melhoramento genético vegetal do mundo todo, dos genes responsáveis pela redução da altura da planta de trigo (genes de nanismo). A história de uma nova arquitetura de planta, nos trigos atualmente cultivados, começou a ser escrita pelo cientista japonês Gongiro Inazuka (1897-1988), que foi criador do trigo Norin 10, uma cultivar de hábito invernal, fonte doadora dos genes de nanismo usados nas cultivares semianãs que, espalhadas pela Ásia e pela América Latina, a partir dos anos 1960, deram origem ao período da agricultura mundial que entrou para a história como Revolução Verde (idolatrada por uns e criticada por outros).
Foi em 1946, enquanto participava como representante do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos da América (USDA) no Japão, envolvido no esforço de recuperação do país que havia sido arrasado pela II Guerra Mundial, que o Dr. S. C. Salmon teve a sua atenção despertada, numa estação experimental agrícola em Honshu, pela existência de trigos de porte muito baixo. O Dr. Salmon enviou sementes de 16 cultivares japonesas de trigos anãos, entre as quais Norin 10, para a sede dos USDA nos EUA. Estas sementes foram, em 1948, distribuídas aos melhoristas de trigo de diferentes instituições americanas. Todavia, os resultados efetivamente apareceram no trabalho que realizava o Dr. Orville Vogel junto à Washington State University. Orville Vogel utilizou os trigos japoneses em vários cruzamentos com trigos de inverno. O cruzamento Norin 10 com Brevor foi o melhor sucedido. A partir dele, seria lançada, em 1961, a primeira cultivar americana semianã de trigo de inverno, Gaines, que se destacaria pelo potencial de rendimento elevado.
Também foi parte das sementes do cruzamento Norin 10 – Brevor que Orville Vogel enviou para Norman Borlaug que, na época, conduzia, desde meados dos anos 1940, com o apoio da Fundação Rockefeller, um programa de melhoramento genético de trigo de primavera no México, focado em resistência às ferrugens (folha, colmo e estriada) e potencial de rendimento elevado. Norman Borlaug recebeu as sementes em 1953. Depois de fracassar nos primeiros cruzamentos das populações Norin 10 – Brevor com os trigos mexicanos, devido à suscetibilidade elevada desses trigos às ferrugens, ele inverteu a lógica, passando a usar os trigos mexicanos como fêmeas e não como doadoras de pólen, Assim, obteve êxito na mudança da arquitetura de plantas dos trigos mexicanos, que se destacavam pela resistência às ferrugens e adaptação ampla, porém tinham sérios problemas de acamamento das plantas devido à altura elevada, não suportando maiores doses de fertilizantes e irrigação. Os descendentes desses cruzamentos realizados por Norman Borlaug revolucionariam a triticultura mundial, a partir de 1962, quando foram lançados os trigos Pitic 62 e Penjamo 62.
Os trigos criados no México foram enviados para o Paquistão e para a Índia, num grande esforço de aliviar a catástrofe da fome, que devido a sucessivas frustrações de safra e os baixos rendimentos da agricultura, assolava aqueles países asiáticos. Vencidas as primeiras barreiras impostas pelos pesquisadores asiáticos que, no começo, rejeitaram as novas plantas, a importação de sementes dos trigos mexicanos e insumos pelos governos da Índia e do Paquistão deu certo. A produção local de trigo cresceu e somando-se à produção de arroz, que seguiu o mesmo padrão de mudança da altura de planta e arquitetura de folhas experimentadas no trigo, numa iniciativa global de desenvolvimento da agricultura, desencadeada a partir da criação dos centros internacionais de pesquisa agrícola, caso o CIMMYT, no México, trabalhando com trigo e milho, e do IRRI, nas Filipinas, com foco no arroz.