OPINIÃO

Tá faltando gente

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Uma das características que definem a transição das aventuras da mente do mundo infanto-juvenil para o mundo adulto é a perfeita clareza à cerca das limitações pessoais e da necessidade absoluta de suas correções. Talvez, nesses momentos clareie a distinção entre o que é ser pessoa e ser gente. Pessoa pode ser qualquer um, pessoa é qualquer um, é um ente. Gente pode ser a designação dada aquele cujos predicados sobrenadam aos demais. Talvez seja por isso que digam por aí que o fulano de tal é gente; que se tem alguém que é gente esse alguém é o fulano. Tais predicados invariavelmente têm a ver com humanismo, busca de aperfeiçoamento pessoal permanente, com ética e sua aplicação – ao que chamamos de moral, pessoas com consistência, altamente equilibradas e que sabem tangenciar interesses ao bem comum. Gente é quem tem valores pessoais acima de valores materiais, gente é aquele que cujas condutas têm mais adjetivos do que substantivos.

Já repararam que gente, pessoas com muitos predicados, estão em falta no mercado? Quem tem empresas, quem tem que contratar pessoas, quem tem que fazer processos de seleção sabem do que estou escrevendo. Quantas pessoas que são gente de verdade podemos ter ao nosso dispor, a nossa convivência diária?

No mundo dos negócios entre empresas as compras e vendas envolvem CNPJ com CNPJ, é o que chamamos de B to B, ou business to business. No entanto, quem negocia é CPF com CPF, ou seja pessoa com pessoa. Se a pessoa designada por nossa empresa é dotada de valores é bem possível que ambas as partes saiam satisfeitas se o negócio proposto é idôneo. Se for picaretagem é bem provável que alguém passará a perna em alguém. Negociação envolve valores pessoais e pessoas talentosas, pessoas com predicados. É o que há muito conhecíamos como fio do bigode, sem assinatura, só com a palavra, que era o que de mais honrado havia em um homem.

O mundo está cheio de pessoas, mas tá faltando gente aqui, ali, lá. O único lugar que não falta pessoas idôneas é nos cemitérios, talvez porque as lápides salientam as boas características dos falecidos e nunca suas mazelas. Foi o que fez Millôr, o guru do Meier, levantar a pergunta, ao ler os escritos nas lápides: onde será que os canalhas estão enterrados? Não deve ser nesse lugar, aqui só tem gente boa.

 

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