Descontrole da inflação e das contas públicas, tornaram-se os motivos para planos econômicos e pacotes milagrosos que prometiam o controle da inflação e a retomada do poder de compra das famílias. O cardápio ofertado variou ao sabor dos governos e dos ministros que ocupavam o ministério da fazenda, congelamento de preços, abertura da economia, privatizações, confisco da poupança. O plano real quebrou a sequência de sucessivos milagres que tornaram-se desastres econômicos e penalizaram várias gerações de brasileiros.
A Unidade Real de Valor (URV) antecedeu o plano real, e foi fundamental para que as empresas, famílias e o mercado como um todo pudessem se estruturar em uma economia estável. O plano real, foi o início de uma nova era no Brasil, a inflação recrudesceu e veio para os patamares desejados, que eram abaixo dos 10% ao ano, tudo isso após termos inflação acima dos 2000%a.a.
O plano real, trouxe previsibilidade para a economia. Essa previsibilidade pela primeira vez em muitos anos propiciou que as contas do governo que mais pareciam com um ônibus desgovernado, sem freio descendo a ladeira, encontrassem um ponto de equilíbrio e fosse possível saber o que se tinha de receita e de despesas. Várias foram as críticas realizadas ao plano real, como a reestruturação do mercado de capitais, setor bancário por meio do PROER e o PROES, a valorização do real frente ao dólar que facilitou as importações em detrimento da indústria nacional, o que gerou milhares de desempregos e uma série de dúvidas quanto ao futuro do país.
Superamos as dificuldades dos anos noventa e saímos mais fortes após a desvalorização do real, e adoção do tripé econômico que consistiu em câmbio flutuante, equilibro fiscal leia-se superávit primário (economia para pagar juros da dívida) e o controle da inflação, com esse tripé foi possível recuperar a confiança do mercado e consequentemente e a retomada do crescimento.
Nesse período a democracia no Brasil evoluiu, eleições diretas permitiram a alternância do poder e um metalúrgico tomou posse como Presidente da República, prometendo manter os fundamentos econômicos deixados pelo sociólogo. As eleições gerais de 2002 renovaram as esperanças e a ortodoxia econômica permitiu que tivéssemos os maiores superávits primários e as menores taxas de inflação da história.
Foi-se o ano de 2008 e estourou a crise americana de subprime (derivativos), o mundo entrou em colapso, um tsunami varreu os mercados e aqui no Brasil foi proclamado de forma triunfal que o Brasil seria atingido por uma marolinha. Desde o ano de 2008, a ortodoxia econômica ficou de lado e iniciou-se um novo ciclo: política anticíclica. Que consistiu na oferta abundante de crédito com prazos elevados de pagamento e o afrouxamento da disciplina fiscal, ou seja, praticamente todas as esferas do poder no Brasil deixaram de cumprir metas de economia com o objetivo de manter aquecida e gerar empregos, os resultados todos lembram, uma boa parte da população paga parcelas de empréstimos consignados e de carros até o momento.
No ano de 2010, a economia crescia, as pessoas estavam felizes, otimistas com o rumo da economia, confiantes é a palavra. Várias foram as declarações naquele ano, de que um pouco a mais de inflação não seria ruim para o Brasil, tínhamos permitido a indisciplina fiscal e passaríamos a ter tolerância com “um pouco a mais de inflação”. No ano de 2012, mentíamos o ritmo do descontrole das contas públicas, e perdíamos a batalha pelo controle da inflação, ai uma medida milagrosa saiu da cartola dos oráculos de plantão em Brasília, antecipou-se a renovação dos contratos do sistema elétrico e assim reduziu-se as contas de energia elétrica das famílias e das empresas, uma grande conquista, redução de 20% na tarifa.
Eleições no Brasil permitem um vale tudo, até mesmo omitir a verdade, a prova disso foi o que aconteceu nas eleições de 2014, onde o país apresentado pelo governo, parecia com o descrito em “Alice no país das maravilhas”. Porém o que foi apresentado aos brasileiros no mês de dezembro é de medida que buscam retomar o tripé econômico. Enfim, em que pese todas as medidas impopulares anunciadas podemos ter duas certezas: o superávit primários de 2015 até o momento será alcançado por aumento de impostos e com as medidas anunciadas nos distanciamos definitivamente dos governos populistas considerados bolivarianos. Por fim, tenho a esperança que as próximas correções ou pacotes econômicos sejam cortar despesas.
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