A chuva não dava trégua na madrugada do dia 4 de fevereiro de 2014, quando por volta das 4h30min, a Bom Sucesso entrou na avenida Sete de Setembro para garantir o retorno à elite do carnaval passo-fundense. Um feito testemunhado pelos jurados e sete simpatizantes que resistiram bravamente na arquibancada. “Consegui até contar. Eram apenas sete pessoas esperando nossa escola passar” lembra o presidente da vermelho e branco Carlos Alberto dos Santos, 43 anos. Bole, como é popularmente conhecido, quer retomar os grandes desfiles da vermelho e branco. Aos poucos, a escola mais antiga em atividade da cidade (45 anos), vai se refazendo da crise financeira que provocou a perda da sede da entidade e, principalmente, o afastamento de figuras tradicionais da escola. Prova disto foi o surgimento da Unidos da Operária formada por dissidentes da Bom Sucesso. Duas quadras separam os locais de ensaio de uma escola da outra.
Se o desfile de 2014 tinha como meta voltar para o grupo especial, este ano o objetivo e bem mais ambicioso. A Bom Sucesso vem para brigar pelo título com as outras três concorrentes. Sem apoiadores, a direção vai montar o enredo se utilizando apenas dos R$ 70 mil repassados pela prefeitura. Para ajustar os gastos, precisou traçar estratégias diferentes das demais. “Não tenho carnavalesco, pensei o enredo e um amigo de Porto Alegre ajudou a desenvolvê-lo” revela Bole.
Para falar de grandes festas em diferentes partes do mundo, incluindo Egito antigo, Grécia e Brasil, são cerca de 300 integrantes, divididos em oito alas e três carros alegóricos. Pelo menos metade deles trazidos de outras cidades. Somente da escola Restinga, de Porto Alegre, são 60 componentes, incluindo casal de mestre-sala e porta-bandeira, e porta-estandarte. Outro reforço é esperado da cidade de Carazinho.
Figuras ilustres
A mesma estratégia vale também para as fantasias. Uma parte vem de fora e outra está sendo confeccionada por três costureiras em Passo Fundo. Quem comanda estre trabalho é dona Ruth Custódio, 72 anos, mais de 40 deles dedicados ao carnaval. Uma relação que vem de berço. Filha do músico Alfredo Custódio, o maestro Alfredinho, compositor dos hinos do S.C. Gaúcho e do 14 de Julho, e comandante de conjuntos que animavam as noite de carnaval pelos salões da cidade. “Eu tinha uns 13 anos e já cantava no conjunto do meu pai. Nossa escola era a Visconde do Rio Branco” lembra, mostrando uma foto de dois netos fantasiados em um carnaval na extinta escola.
Dona Ruth se orgulha também de ter herdado a veia de compositora do pai. “Fiz o samba enredo da escola Garotos da Batucada em homenagem a Dorinho”. Mesmo tendo sido criada no ambiente musical e carnavalesco, ela surpreende ao revelar que jamais participou de um desfile. “Na verdade nunca tive vontade, gosto de ajudar nas fantasias e ficar torcendo na arquibancada” conta sorrindo.