Desde o início de 2014, principalmente e, de maneira mais acentuada durante e após as eleições, a população brasileira está sendo bombardeada diuturnamente por notícias negativas sobre o crescimento econômico, fato que gera muitas incertezas, angústias e diminui a confiança quanto ao futuro do Brasil e da própria população. As medidas anunciadas no final do ano passado contribuem para uma piora dos indicadores em 2015: a elevação ou seja o crescimento da inflação, dos juros (taxa Selic), do dólar, da energia elétrica, da tarifa da água e do aumento significativo no nível de desemprego. Estes, formam os ingredientes necessários para que, paradoxalmente, o único indicador a cair seja então, o Produto Interno Bruto (PIB).
Para o economista Ricardo Amorim, os ajustes necessários são dolorosos. Como um doente com câncer precisa passar por uma quimioterapia, antes de nos sentirmos melhor, vamos nos sentir ainda pior do que antes por conta dos efeitos colaterais do tratamento. A questão é que se o procedimento não for realizado, o doente morre.
Pois bem, a crise de hoje é a oportunidade de amanhã. O período de ajuste por mais doloroso e incerto que seja, deverá gerar desafios a serem transpostos. As melhorias poderão abranger reformas a nível Brasil, consensos entre setor público e privado e o ensejo para ambos repensarem suas áreas de atuação. Em outras palavras, a reflexão necessária sobre os investimentos realizados e sua real eficácia.
A Petrobras é uma oportunidade de investimento, mesmo pertencendo ao setor público e, deverá melhorar seus mecanismos de governança corporativa e criar uma Diretoria Exclusiva para executar o compliance, ou seja, perseguir a conformidade com as leis e as normas do Brasil e do exterior e, em como esse movimento deverá fazer com que outras e mais empresas adotem efetivamente tal mecanismo. Falando em investimentos, se possuir reserva financeira e quiser aplicar em ações, no médio e longo prazo, poderá lucrar.
O consenso existente entre os setores público e privado vem da necessidade de melhorar a produtividade do trabalhador brasileiro. Para a economista Fernanda de Negri, do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA), a produtividade é um conceito residual: trata-se de todo efeito sobre a produção que não pode ser explicado olhando-se para o aumento do número de trabalhadores (no caso do índice Produtividade do Trabalho) ou de trabalhadores e máquinas (no da Produtividade Total dos Fatores). Simplificando, se uma empresa produz 100 sapatos em um mês, e, no mês seguinte consegue produzir 200, sem comprar novas máquinas nem contratar novos trabalhadores (ou pedir que seus funcionários façam horas-extras), teve um ganho de eficiência ou de "produtividade".
Pode ser porque os trabalhadores aprenderam a operar melhor suas máquinas, ou porque houve uma simplificação burocrática no país em questão que permitiu a empresa reformular seu quadro de pessoal, aumentando a proporção dos que trabalham diretamente na produção. O fato de que vários fatores podem afetar a produtividade faz com que também sejam muitas as teses sobre como melhorar esse indicador.
Há um consenso interessante sobre a relevância da educação na formação de cidadãos e qualificação profissional. Muito se fala na universalização do acesso e na oferta de cursos em quantidade nunca antes vista na história. Será que os cursos de formação ofertados pelas empresas estão em linha com os objetivos estratégicos das empresas? Será que as empresas possuem orçamento anual, planejamento de longo prazo? Os cursos ofertados pelos governos, em suas três esferas, levam em consideração as vocações regionais e/ou as expectativas das pessoas?
Chama atenção dados como a existência de dois alunos para cada professor em alguns municípios, e em outros tantos, a falta de professores. Em ambos os casos, mesmo com o aumento dos investimentos em educação, não se observam melhoras no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB). Existem oportunidades na crise, basta tenacidade para recrutar, formar, desenvolver e reter talentos nas organizações, oferecendo expectativas futuras e empreendendo. No setor público, a crise, até o momento, está sendo capaz de ressuscitar a reforma política.