O segundo dia da greve dos caminhoneiros na região, gera reflexos na indústria leiteira. Elas estão encontrando dificuldades para coletar o leite nas propriedades rurais. O fornecimento de materiais para a industrialização dos produtos também está obstruída devido a paralisação. Segundo o presidente estadual do Sindilat, Alexandre Guerra, a região norte e nordeste são os locais mais afetados em virtude da greve. De acordo com ele, mesmo que as cargas com leite sejam liberadas, os caminhões tanque estão ficando presos nos bloqueios e não conseguem chegar até o produtor. “Os produtores não podem armazenar o leite por muitos dias e as empresas precisam fazer o recolhimento a cada dois dias”. Outro problema enfrentado é com os outros insumos que precisam chegar até a indústria leiteira. Guerra explica que caminhões com embalagens estão ficando presos nos bloqueios e não conseguem abastecer a demanda da indústria. “São vários fatores que compõem a indústria leiteira que estão prejudicados e logo isso irá refletir no consumidor que não terá o produto nas prateleiras”.
Ele ressalta que há indústrias sendo forçadas a parar sua atividade por causa dos efeitos da greve. “A situação nos preocupa muito e queremos uma solução urgente”. Ele classifica que o processo produtivo do leite está travado com a paralisação dos caminhoneiros.
Ele acrescenta que há caso de indústria com ociosidade de 80%. Elas deviam receber um milhão de litros para processar e estão recebendo apenas 200 mil litros. O Rio Grande do Sul industrializa, em média, 13 milhões de litros de leite por dia.
Mas conforme o coordenador do movimento, André Pretto, os caminhoneiros tem a liberdade de aderir ou não à paralisação. “Nós oportunizamos o livre arbítrio aos caminhoneiros”. Ele também explica que as cargas perecíveis e, principalmente, de leite, estão sendo liberadas para não prejudicar os agricultores. “Nós queremos mostrar como nosso serviço é essencial para sociedade e, principalmente, para a economia do país, mas não queremos prejudicar setores que estão apoiando nossas pautas como os agricultores”.
Em nota, o Sindilat instruiu os laticínios com caminhões obstruídos ou com a passagem dificultada a formalizar essa situação por meio de boletim de ocorrência, para possibilitar o futuro pedido de ressarcimento pelos prejuízos sofridos. A entidade ingressou com ação judicial contra os bloqueios dos caminhoneiros nas rodovias federais e já conseguiu liminar em Passo Fundo, Santa Rosa e Carazinho. O Sindilat também entrou com ação contra o bloqueio nas estradas estaduais.
Setores
A paralisação ganhou a adesão de produtores rurais e da Associação de Agricultores Familiares de Passo Fundo e Região (Agropasso). Assim como os caminhoneiros eles protestam contra a elevação do óleo diesel e diante da precariedade das estradas, fatores que encarece o escoamento da produção. Até o final desta edição, o abastecimento de setores essenciais como os mercados não haviam sentido os reflexos da mobilização. Porém, o presidente do Sincogêneros, Celso Marcolan, disse que os efeitos da redução do abastecimento devem acontecer a partir de hoje, principalmente, nos setores de hortifrúti e carnes. Ele adiantou que ainda é muito cedo para sentir os efeitos da paralisação já que os estabelecimentos trabalham com estoques que garantem o abastecimento de produtos essenciais por um período maior.
Merenda Escolar
A merenda escolar da região deve ser afetada. A Agropasso, uma das entidades de representação que participa da mobilização, fornece merenda escolar para 400 escolas da região e, com isso, poderá interromper o fornecimento de alguns alimentos que compõem a merenda escolar. A Agropasso mantem convênio com escolas de Passo Fundo e região e distribui alimentos como frutas, verduras e legumes produzidas pela agricultura familiar.
De acordo com a representante da diretoria da Agropasso Simone Trevisan a entidade aderiu aos protestos em função do aumento no preço dos combustíveis e a possibilidade de emplacamento de máquinas agrícolas. “Estamos aqui para reivindicar principalmente por melhores estradas. Entregamos em Passo Fundo e região e na estrada de Passo Fundo a Ronda Alta é impossível trafegar. Estamos aqui para apoiar os motoristas porque temos de nos unir nesse momento”, ressalta.
Segundo ela a distribuição da merenda escolar foi interrompida na terça-feira sem previsão de retorno da distribuição. Atualmente pelo menos 120 famílias da agricultura famílias integram a associação e produzem pelo menos 100 tipos de produtos, entre frutas, verduras e legumes que complementam a merenda escolar. “Temos um caminhão que está fazendo Ijuí, Santa Barbara e Não-Me-Toque e está preso em bloqueio, outro ficou preso em Marau. Com certeza vai acarretar em prejuízo, mas nesse momento não devemos pensar nisso, e sim num bem maior”, avalia.
De acordo com informações da Coordenadoria de Nutrição Escolar da Secretaria Municipal de Educação de Passo Fundo até o fechamento desta edição a Agropasso não havia comunicado a interrupção no fornecimento de alimentos da merenda escolar. No caso de frutas, verduras e legumes, os produtos são entregues diretamente nas escolas. Nenhuma das escolas que recebe esses alimentos havia comunicado a falta de produtos até o fechamento desta edição.
Agricultores
Os agricultores representantes do Sindicato Rural de Passo Fundo se concentraram com tratores na BR 285, em frente ao Posto Bufon, e na ERS 135, em frente à Bunge, para chamar a atenção das autoridades dos prejuízos relacionados ao preço alto do óleo diesel, más condições das rodovias e tributação no transporte de cargas. De acordo com o vice-presidente do Sindicato Rural, Jair Dutra Rodrigues esses fatores causam prejuízo para os produtores, especialmente na época de colheita. “Estamos juntos com os caminhoneiros nesta mobilização, que não tem prazo determinado para encerrar”. O momento, para os produtores, é da colheita do milho e, dentro de dez dias, se dará início ao período de maior movimentação em relação à colheita da soja.
Manifestação
Os protestos de ontem em Passo Fundo se concentraram nas rodovias ERS-153, ERS-324 e BR-285. Conforme André Pretto, o aumento no custo dos combustíveis tem acarretado um aumento no custo dos fretes e prejudicado a realização da manutenção adequada dos caminhões. Isso representa um perigo para os trabalhadores e também para os demais usuários das rodovias que dividem o espaço com esse tipo de veículo. “O diesel é um instrumento do nosso trabalho assim como o estetoscópio é para o médico”, argumenta.
Segundo ele a adesão dos motoristas é de 90% e não possui data para terminar. Além da reivindicação relacionada ao aumento do óleo diesel a categoria pede a regulamentação de uma tabela que determine valores mínimos pagos pelo serviço prestado. Segundo ele, hoje, não existe regulamentação e falta vontade política das esferas institucionais para defender as demandas da categoria. Ele acrescenta que, com a regulamentação do valor mínimo ao serviço, o frete poderia ser corrigido acompanhando a elevação dos insumos e os custos enfrentados na manutenção dos veículos.
Hoje o frete é calculado a partir de um valor, variável, por tonelada. Sem a correção a margem de lucro final ao caminhoneiro ficou comprometida e inviabiliza a manutenção ou o pagamento das prestações dos veículos financiados. “Muitos de nós estamos com problemas de inadimplência com postos de combustíveis e, caso a situação não se altere, teremos que entregar os caminhões aos bancos porque não teremos como pagá-los”.
Alternativa
Segundo Pretto, falta vontade política para estabelecer critérios e a modelagem de uma tabela que estipule valores mínimos ao trabalho. “O nosso sindicato não se mobiliza para atender nossas demandas e estamos mobilizados para que a sociedade e o Poder Público compreendam a importância da atividade e seja aberto um espaço para que possamos avançar nas nossas demandas”. Ele propõe a abertura de um espaço de diálogo entre a categoria, sindicato, poder público e organismos técnicos de logística, para o desenvolvimento de um estudo e a formulação da tabela.