Obrigação doméstica
É preciso entender os focos de ações necessárias para que o país não sofra sanções alienígenas e ditadas pela modulação sistêmica dos Estados Unidos, que domina o marcado internacional pela política do petrodólar. Neste passo é importante que o Brasil demonstre capacidade de elucidar fatos, punir responsáveis pelos desvios na Petrobras, e conciliar competências em pleno abalo no preço do petróleo. Submeter acusados ao crivo de investigação severa e julgamento é obrigação doméstica. Existem leis suficientes que regem as relações de prestadores de serviços e investidores. As grandes empreiteiras estão no mesmo barco e dependem de retomada da transparência nas participações de projetos. Internamente no país, é das grandes empresas nacionais que depende o ritmo de obras e efetiva produção para evitar o desmonte da estatal.
Dividir para dominar
Pressões bem conhecidas, vigentes no mercado mundial, não perdoam. A Petrobras anda com uma perna quebrada nos avanços de produção, com as denúncias e provas de corrupção. Embora seja dilema administrável internamente, as avaliações sempre temerárias dos institutos internacionais estão batendo forte na mesma tecla, ou seja, na perna quebrada (desvios de recursos). Já era esperado o rebaixamento de valores. A agência Moory’s anunciou que a Petrobras perdeu o selo de “Bom Investimento”, apontando a investigação e imprecisão do balanço da empresa como causas da depreciação. Muito mais rapidamente do que em outros escândalos que abalaram os EUA, inclusive ameaçando a hegemonia do dólar, o rebaixamento chegou ao Brasil. A mídia americana tem suas indisfarçáveis tendências. Infelizmente a grande imprensa brasileira também segue omissa em relação à meta de dominação que iniciou com a pressão contando com os países aliados na derrubada do preço do petróleo. É muito estranha a participação norte-americana na Ucrânia, onde a pretensão é dominar a área de gás e petróleo russo que abastece parte da Europa. Na América Latina, principalmente na Venezuela, o interesse americano aperta, e conta com a deficiência do governo eleito pelo voto, mas conturbado e com sérios problemas. Os EUA não querem a democracia, querem a tomada do mercado do petróleo. Tudo isso atinge também a Petrobras, que acaba de estabelecer o destino do pré-sal e distribui recursos para a educação. Eis aí mais um sinal de alerta ao império ianque ameaçado pela liderança de novo núcleo que polariza poder, com a China e América Latina. E tem mais. A democracia de Washington não dispensa suas asas em forma de bombardeio e desembarque de tropas, tudo dito para salvar a ordem. Assim, a estratégia de excitar divergências, pressionando o Brasil a censurar o chavismo, serve para dividir politicamente a AL, facilitando a dominação.
Retoques:
* Dificuldades da Petrobras não é só dos corruptos e corruptores, mas há interesse externo neste sentido, como comprova a denúncia de espionagem praticada pela National Security Agency.
* Todos os observadores da imprensa, que se mantêm sacralizados no pódio da opinião, sabem que o escândalo da falência dos bancos na década de 90 foi muito mais grave e caro do que se prenuncia a atual crise da Petrobras, e foi sustentado pelo povo. Hoje, pelo menos, há transparência.
* A lista dos brasileiros que mantêm depósitos na Suiça (Swissleaks) só poderá ser divulgada após crivo das autoridades fazendárias do Brasil. Entre milhares de nomes, muitos fizeram depósitos legais. Os nomes estão em análise.
* Parece ingenuidade do juiz Flávio Roberto de Souza, que preside o caso Aike Batista, visto ao dirigir um Porsche confiscado por ato deste magistrado. O ato em si não parece comprometer lisura. O magistrado não precisava refestelar-se num momento tão sério. Ingenuidade?
* A tirania imperial aflige nações mais pobres há muito tempo, como diz Bilac: “Nero, com manto grego ondeado ao ombro, assoma entre os libertos, e ébrio, engrinaldada a fronte, lira em punho, celebra a destruição de Roma” (O Incêndio de Roma).
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