Protesto ganha apoio de organizações e comunidade

Greve dos caminhoneiros continua, mas liminares também impedem bloqueios e obstrução do trafego em rodovias

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Uma carreata que reuniu mais de 400 caminhões, 50 tratores, motociclistas e simpatizantes marcou o quinto dia da paralisação dos caminhoneiros em Passo Fundo, nesta sexta-feira (27). O comércio também interrompeu as atividades, em parte da manhã, no momento que a carreata passou pelo centro da cidade. As lojas ficaram com as portas fechadas e os funcionários e proprietários se concentraram na frente dos estabelecimentos ou no canteiro central da Avenida Brasil com cartazes, faixas e bandeiras. 

A carreata partiu da BR-285 às 8h40 e percorreu toda a extensão da Avenida Brasil. O grupo seguiu até o bloqueio dos caminhoneiros, localizado na RSC-153, na saída para Ernestina. Os manifestantes permitiram a passagem de ônibus, carros de passeio e ambulâncias. Desde quinta-feira (26) todos os caminhões eram obrigados a parar no bloqueio.  Próximo ao meio-dia o grupo recebeu a notificação da liminar deferida, pelo juiz plantonista, Dalmir Franklin de Oliveira Júnior estabelecendo o desbloqueio total da rodovia RSC-153 e ERS-324. Com isso, os organizadores pediram que os demais retirassem os caminhões que estavam obstruindo o fluxo da via e estacionassem no acostamento para não sofrerem penalizações previstas na decisão. O Batalhão da Polícia Rodoviária Estadual, que acompanhava o piquete, permitiu que os manifestantes almoçassem no local, mas até às 13h30 todos deveriam retirar os caminhões da via. A organização também liberou aqueles que desejassem seguir viagem. Vários motoristas deixaram o bloqueio. Caso a decisão não fosse cumprida o grupo estaria sujeito a multa diária de até R$10 mil por caminhão e o uso da força para a desobstrução da via estava autorizado.

Um grupo não concordou com a decisão da organização do protesto de obedecer as ordens estabelecidas na liminar e demonstraram o desejo de permanecer com o bloqueio. Porém, um dos organizadores do protesto, o caminhoneiro André Pretto, disse que a intenção não é abrir precedente para que houvesse o uso da força. “Esse é um movimento pacifico e não queremos confronto. Uma decisão não se discute, apenas se cumpre”. Os caminhoneiros permaneceram no restante do dia paralisado nos acostamentos às margens da rodovia. Pretto destacou que a greve continua até que as medidas estabelecidas na pauta de reivindicações sejam atendidas.

População apoiando a causa
Muitas pessoas foram para as ruas na manhã de sexta-feira apoiar a manifestação dos caminhoneiros. Grande parte das lojas da Avenida Brasil fecharam as portas e os funcionários foram para o canteiro central ou ficaram nas calçadas. Faixas pretas também foram colocadas em frente as lojas como forma de protesto e apoio a manifestação. “Estamos aderindo a paralisação porque achamos justo o que eles estão reivindicando e apoiamos o movimento”, declarou uma comerciante do centro.

Voluntários se uniram ao protesto e, mesmo não fazendo parte da classe, foram ajudar na organização do movimento. “Hoje trabalho em uma imobiliária no centro, mas já trabalhei com caminhões e compreendo todas as dificuldades. A classe está precisando de apoio. Está difícil trabalhar na situação que o país se encontra hoje”, declarou Flávio Lunelli.

Dezenas de funcionários de empresas da região do Boqueirão também ficaram mobilizados na Avenida Brasil. “Estamos aqui em frente a empresa desde cedo. Nos solidarizamos com o povo brasileiro que está passando por uma situação muito difícil. A empresa que trabalhamos é uma concessionária de caminhões. O nosso público-alvo está passando por uma crise nunca vista. As consequências são diretas. Nos atinge em cheio também”, enfatizou Luiz Carlos Bandelli.

“Tenho muito orgulho de ser brasileira”
A moradora da Cohab II, Rita Carmelita Barcarolo, 64 anos, ficou no canteiro da Avenida Brasil durante mais de uma hora esperando a passagem dos caminhões e tratores, que passaram por volta das 11h15. Durante todo o tempo, ela e outros moradores do bairro comentavam a crise enfrentada não só pelos caminhoneiros, mas por todo o povo brasileiro. “Estou enrolada nesta bandeira, porque sou brasileira. Tenho muito orgulho de ser brasileira. Este protesto é muito justo. Estamos na miséria aqui, enquanto aquela corja está roubando lá em cima”, declarou Rita.

Não é fácil ser motorista

Douglas dos Santos trabalha há 11 anos como caminhoneiro e ressaltou a importância da população apoiar os motoristas que transportam as riquezas e necessidades da população. “O movimento é pacífico e convidamos toda a população para participar do movimento. O caminhão é uma ferramenta fundamental, porque leva o remédio, o combustível, a carne, o leite, os grãos e toda alimentação necessária. Sou de Soledade e vim apoiar. Vamos permanecer unidos”, ressaltou o caminhoneiro.
Os buracos nas estradas também é alvo de reclamações. “Faz quatro anos que trabalho no ramo. O mais complicado é a má conservação das estradas estaduais. É cheio de buracos”, disse o motorista, Keilor Miranda.
Moisés Lorenzato abandonou a profissão de caminhoneiro há alguns anos. O trabalho difícil e os lucros pequenos foram algumas das motivações. “As estradas do Rio Grande do Sul são as piores. Parei com o ramo porque se tornou muito sofrido. Ser motorista não é fácil. Manter o caminhão é difícil. Cerca de 90% do trabalho é gasto com o caminhão”, destacou o ex-caminhoneiro, que está apoiando a categoria.

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