Mais de 120 caminhões-tanque saíram do Terminal Petrolífero de Passo Fundo na manhã de terça-feira (03), escoltados pela Brigada Militar e Polícia Rodoviária Federal. Desde a manhã de segunda-feira (02), o movimento de caminhoneiros e agricultores estavam em frente ao terminal, localizado no bairro Petrópolis, impedindo a saída dos caminhões carregados com combustível. O terminal responde pelo abastecimento de 137 municípios do Rio Grande do Sul e 66 de Santa Catarina. Dezenas de postos de combustíveis já estavam com o abastecimento comprometido devido a mobilização.
Por volta das 11h de terça-feira, a Brigada Militar chegou no local para tentar uma negociação com os caminhoneiros para que a liberação dos caminhões-tanque fosse pacífica. Sete viaturas da Brigada Militar e outras cinco da Polícia Rodoviária Federal foram utilizadas para garantir a segurança.
O movimento dos caminhoneiros tentou um acordo para que os caminhões-tanque só saíssem na manhã de quarta-feira, mas as negociações não se confirmaram. Às 11h25, os portões foram abertos para a saída dos veículos. Mais de 120 caminhões deixaram o terminal em comboio. Os manifestantes que estavam fazendo vigília reagiram pacificamente. “O nosso movimento é pacífico. Mas teve donos de postos que vieram armados fazer pressão hoje de manhã. Nós registramos o caso na polícia. É uma manifestação popular. Na minha cidade, a gasolina já estava em R$ 4,55. É complicado para o trabalhador que tem que pagar aluguel e sustentar família”, disse o caminhoneiro André Zambiasi.
O caminhoneiro Adelar Sengafredo lamentou a liberação dos caminhões. “Esse último aumento foi a gota d'água. Os motoristas vão quebrar desse jeito. É inviável manter com o preço que tá. Estava há 90 dias parado. Mas eu tenho certeza que fiz minha parte”, declarou o caminhoneiro.
O comandante do 3º RPMon, Tenente Coronel Fernando Carlos Bicca, informou que o dever da Brigada Militar é garantir a livre circulação das pessoas. “Nossa ação independe de uma decisão judicial. Temos o dever de garantir o direito de ir e vir. Estamos aqui para a garantir a segurança”, ressaltou Bicca.
Falta de gás
O empresário Rodrigo Tagliari, proprietário de uma distribuidora de gás, destacou que os estoques estão muito baixos principalmente em função dos atrasos de entregas de novas cargas. Além disso, o temos das pessoas em função da possível falta do produto fez com que muitas famílias comprassem botijões de gás extra para as casas. Na manhã de ontem, em aproximadamente uma hora e meia, foram vendidos cerca 150 unidades que ainda estavam disponíveis. No local onde o produto é estocado havia apenas botijões. “O gás que chega a Passo Fundo vem via rodoviária e as carretas que fazem o transporte estão com quatro a cinco dias de atraso. Além disso, boa parte da região retira o gás em Passo Fundo”, esclareceu. Com a diminuição no número de caminhões que chegam carregados a situação pode se agravar caso não haja a normalização do fornecimento.
Atrasos na entrega têm diminuído o volume do estoque de gás de cozinha em Passo Fundo. Em uma distribuidora, pelo menos 150 botijões de gás foram vendidos em apenas uma hora e meia na manhã de ontem.
Materiais de construção
No município também já é registrada a falta de alguns produtos utilizados na construção civil. Conforme o gerente de vendas de uma loja de materiais, Anderson Zainin, alguns tipos de areia estão em falta, bem como o cimento que tem chegado ao município não é suficiente para atender a demanda. A diminuição do fornecimento ainda não chegou a prejudicar o andamento de obras conforme a observação de Zainin, mas isso pode acontecer caso a situação se estenda. Na região, ainda de acordo com ele, algumas obras já foram prejudicadas. “A quantidade que temos recebido hoje está praticamente toda vendida. O que chega diminuiu em aproximadamente 30%”, observou.
De acordo com Luiz Antônio Giacomini, vice-presidente Incorporador do Sinduscon, o problema acontece com os produtos de saída imediata, como é o caso da areia, da argamassa e do cimento. “Também estamos com a falta de alguns materiais que veem de outros estados e estão na estrada, como a madeira. Porém, o principal problema são com produtos cujo estoque é limitado”, frisa o vice-presidente. Giacomini também cita o exemplo de alguns empresários que já estão mandando funcionários ficarem em casa devido a diminuição do ritmo da construção. “Sem os materiais não tem o que fazer, o trabalho diminui e, caso a paralisação se estenda, haverão também demissões neste setor”, finaliza.