OPINIÃO

A Verdade Dói

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Em um estudo de 2006, Kathryn Hochstetler, examinou as tentativas de interrupção do mandato de presidentes eleitos na América do Sul após a redemocratização das décadas de 70 e 80 (“Rethinking presidentialism: challenges and presidential falls in South America”). Constatou que até 2003, dezesseis presidentes enfrentaram tentativas de impeachment e nove deles deixaram o governo antes do fim do mandato. Desses, apenas um impeachment se concretizou, o do brasileiro Fernando Collor. Os demais fracassaram por outros motivos. 

A autora lista três fatores que motivaram tentativas de impeachment na região: (1) a insatisfação com a política econômica, (2) as acusações de corrupção e (3) o governo minoritário no Congresso. Adicionalmente, os protestos de rua aparecem como um forte e determinante fato. Na ausência de um dos três fatores citados ou dos movimentos de rua, os presidentes concluíram o mandato.
A eleição de 1998 foi marcada por uma disputa entre Fernando Henrique Cardoso e Marco Maciel (PSDB e PFL), contra Luís Inácio Lula da Silva e Leonel Brizola (PT e PDT). Lula acusava o então candidato a reeleição, FHC, de omitir do povo brasileiro a real situação da economia brasileira e, encerrado o período eleitoral, o Real sofre uma importante desvalorização perante o Dólar, o que instauraria o caos nacional. Além disso, FHC era acusado por sua oposição de ter comprado a emenda constitucional, o que lhe garantira a possibilidade de concorrer à reeleição.

No caso de Fernando Henrique, em 1999 a iniciativa foi do Partido dos Trabalhadores, que se articulou no início do segundo mandato do presidente. FHC enfrentava queda de popularidade quando aconteceu a desvalorização da moeda que, durante a campanha pela reeleição, prometera não deixar acontecer (qualquer semelhança com fatos atuais não é necessariamente mera coincidência). O PT mobilizou a população em protestos de rua sob o lema “Fora FHC!”. Os movimentos, porém, não se encorparam. Havia insatisfação com a política econômica, mas inexistiam escândalos. O governo não era minoritário. Não houve processo de impeachment.
No escândalo do mensalão em 2005, se falou no impeachment de Lula, mas a oposição temeu a interrupção do mandato de um líder tão popular. Preferiu apostar numa agonia lenta, que acarretaria a derrota nas eleições do ano seguinte. No entanto, as expansões da economia, o crescimento dos índices de emprego e renda, contribuíram para a recuperação da imagem de Lula. O impeachment abortou.
Para Lula, o problema do PT é que este “se tornou um partido igual aos outros. Deixou de ser um partido das bases para se tornar um partido de gabinetes”. Segundo ele, existiria “muito mais preocupação em vencer eleições, em manter e reproduzir mandatos, do que em vitalizar o partido”.

Lula citou a "militância paga", sempre criticado pelo PT na "política tradicional". “(...) É nesse ambiente que alguns, individualmente, cometem desvios que nos envergonham diante da sociedade e perante a história do PT. (...) Penso que esse processo chegou ao limite”, decretou Lula. Insustentável momento que vivemos no Brasil, um clima de intolerância alimentado por anos de afirmações de que somente era bom, se fosse do PT ou estivesse na sua órbita - o restante deveria ser exterminado. Um exemplo é Kassab, real inimigo do PT, tornou-se aliado e hoje, é Ministro das Cidades do governo Dilma, peça central no tabuleiro político de Brasília. A vida segue, o cenário se movimenta e, se antes nenhum petista estrelado poderia tirar foto com Kassab, hoje figura entre tantas celebridades e militantes petistas. Será que existe verdade nisso?

Lamentáveis também são as declarações que o governo tem dado sobre os contratos com as empreiteiras envolvidas na operação lava-jato. O que se interpreta das declarações do governo é que os empregos deveriam ser prioridade. Questionamos: os empregos existiram pelo motivo da corrupção? Se não houvesse corrupção, existiriam? Enfim, a verdade dói e custa uma reeleição por exemplo. Se a verdade não doesse com tanta intensidade, FHC, em 1998, e Dilma, em 2014 optariam por dizê-la, assumindo e enfrentando a real situação da economia nacional. Mesmo com a verdade, teriam sido reeleitos. Como a verdade não encontrou sua voz, em seu devido tempo, restou-lhes vender a alma ao PMDB.

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