O assombro das sombras
Em pleno sol de verão, raiou a luz da transparência para revelar muitas verdades sobre o passado e o presente da história política do país. É o aspecto positivo da comunicação que ainda flerta com penumbras do tempo. Revelações de fatos investigados denunciam atos gravíssimos de corrupção e desnudam personagens que pareciam inatingíveis por investigação. Tanto os danos devastadores dos atos de corrupção, especialmente na Petrobras, como os severos indícios de sonegação fiscal e lavagem de dinheiro em bancos estrangeiros, assolam e assombram. Quanto mais se abre a informação crescem as sombras, que assombram a nação, a governabilidade e o espectro político de situação e oposição. Como (com perdão pelos pleunasmos) fugir da própria sobra?
O gigante financeiro
No mundo, o HSBC é instituição poderosa, gigante financeiro, citada como principal agente de remessas aos bancos suíços. A rede bancária, herdeira do Bamerindus, tem 254 mil funcionários no mundo e mais de 52 milhões de clientes. É avaliada em 27 bilhões de dólares. No Brasil teve crescimento espantoso em 565 municípios e 933 agências. O ex-funcionário Ervé Falciani entregou dados ao jornal francês Le Monde, com lista de mais de 8 mil contas para triagem que possa identificar evasão de impostos e coleta de dinheiro arrecadado via corrupção no Brasil. É caixa preta blindada e certamente poderá trazer à luz dados tenebrosos. A coisa é tão grave que o jornal resolveu partilhar as informações com peritos e grandes jornalistas do mundo. E parece que esta sombra assusta de modo semelhante à operação Lava Jato.
Janot com calma
O procurador geral Rodrigo Janot adota procedimento legal cauteloso em relação aos novos indigitados, e com foro privilegiado, da operação Lava Jato. Na triagem de mérito do processo acusatório, protocolou 28 pedidos ao Supremo para investigar 54 nomes apontados. Logicamente há evidências de que nomes conceituados constam na lista. Não são todos detentores de foro privilegiado, mas parece que se trata da maioria. Por segurança, e para evitar nulidades a serem alegadas pela defesa desses “caríssimos” possíveis denunciados, adotou a cautela milenar de procedimento “festina lente” – devagar se vai ao longe. Ou seja, diz que a população pode tranquilizar-se, e quem tiver que pagar vai pagar. Observadores dizem que o ministro Teori Zavaski, que aprecia o pedido de investigação e quebra de sigilo (bancário e das comunicações) – está disposto a autorizar.
Turbulências
A citação dos parlamentares Renan Calheiros e Eduardo Cunha, no envolvimento, ainda que prematuramente, gerou alvoroço político. Ambos do PMDB, já demonstraram resistência ao bloco dos aliados ao governo petista. Renan, abraçado a tucanos, rejeitou a MP do ajuste fiscal. O juiz Flávio Roberto de Souza, que dirigiu o Porsche de Aike Batista, certamente terá que explicar o comportamento histriônico, que poderá causar prejuízo ao processo e que preocupa a seriedade da magistratura. Os rombos na Petrobras e na arrecadação, as denúncias contra governos estaduais, crises na produção industrial e intempéries no norte e centro do país assustam. Lideranças vêem crescer a própria sombra. Nesta fuga faltam gestores para interpretar o clamor das ruas, com suas verdades e desvios.
Retoques:
O jornalista Acácio Silva narra mais um episódio inusitado: o golpe da pajelança. Golpistas enganam pessoas vulneráveis com promessa de cura em rituais indígenas. Parece inacreditável ousadia! É deplorável o uso da internet para divulgação de alarmes falsos. Vi uma dessas mensagens, eivada de extremismo e ódio, anunciando novo golpe armado para tumultuar a população. Método nazista e terrorista repudiável. É desumano destilar rancor de inconformidade por alguma frustração eleitoral. As manifestações das ruas não podem ser anuladas por atitudes absurdas, por que estas desviam rumos. Na frança as ruas foram muitas vezes tomadas (democraticamente) por campesinos que sacudiram o país. No Chile a manifestação dos caminhoneiros iniciou movimento que resultou em ditadura sangrenta.