OPINIÃO

Trigo no Brasil

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Ainda que não seja demasiado o exagero de rotular o livro “Cultivares de Trigo Indicadas para Cultivo no Brasil e Instituições Criadoras - 1922 a 2014” como “o catálogo dos catálogos das cultivares brasileiras de trigo”, entendendo-se por “brasileiras” tantos aquelas criadas em território nacional quanto estrangeiras introduzidas para cultivo no País, tampouco essas locução superlativa é suficiente para expressar a plenitude da dimensão de valor dessa obra. É mais que um catálogo, mesmo que exerça esse papel ao relacionar todas as cultivares de trigo que, entre 1922 e 2014, foram as protagonistas da construção da história da triticultura brasileira; quer seja pelo cultivo nas lavouras ou pelo uso em programas de melhoramento genético. Ao reler os originais, com a intenção de redigir as notas que dão forma o prefácio da obra, não pude deixar de perceber que, na verdade, tinha diante dos meus olhos a mais bem contada história do melhoramento genético de trigo no Brasil, entre todas as versões que, até então, me foi dada a oportunidade de conhecer.

Simples assim: a mais bem contada história do melhoramento genético de trigo no Brasil! Pois, que eu saiba, nenhuma outra obra reúne tantos detalhes e tamanha quantidade de informações sobre o caminho trilhado geneticamente pela triticultura nacional, até chegar ao padrão de excelência e competitividade dos tempos atuais, quanto esse livro. Há nele muito mais que meramente informações sobre cultivares e suas instituições criadoras. Essas vão desde: nome da cultivar; ano da criação/lançamento/introdução no País; unidade da Federação que foi indicada/cultivada, genealogia (cruzamentos); e instituição criadora, além de outras características botânicas e de interesse geral em agronomia e genética vegetal. Destaque foi dado aos principais avanços alcançados e os principais obstáculos superados via o melhoramento genético de cultivares em trigo no Brasil (tolerância ao Al, ciclo, resistência doenças/pragas, porte/arquitetura de plantas, qualidade tecnológica, etc.), sendo os devidos créditos datados e atribuídos a quem fez por merecer.

A leitura do livro permite a percepção de como foi construída a história do melhoramento genético de trigo no Brasil, com o reconhecimento de pessoas e instituições que deram contribuições relevantes. Pode ser visto, especialmente, como uma espécie de tributo à história daqueles pesquisadores que dedicaram uma vida melhorando geneticamente (aperfeiçoando) os trigos brasileiros e também àqueles que continuam a trabalhar nesse terceiro milênio, levando adiante o desafio de aumentar a produção de trigo no Brasil e no mundo.

O livro é mais que a história do melhoramento genético de trigo no Brasil (pessoas, instituições e cultivares), ainda que isso represente a sua essência. Ao retratar, como nunca antes, a origem das cultivares brasileiras de trigo e suas relações com outros trigos no mundo, mostra a formação e a diversidade do pool genético dos trigos nacionais, tornando-se leitura indispensável para quem se propor a fazer a ligação entre o melhoramento genético convencional, cujos frutos do passado e do presente tomaram a forma das 547 cultivares citadas nessa obra, com os novos métodos da biologia molecular.

Por fim, cabe dizer que o livro é a prova cabal da relevância que, em tese, sempre se atribuiu ao sinergismo que resulta da interação entre a senioridade, representada por Cantídio Nicolau Alves de Sousa, e a juventude, expressa na pessoa do pesquisador Eduardo Caierão, na boa prática científica. O primeiro pesquisador dedicou parte expressiva da sua vida profissional à construção dessa obra singular e o segundo teve a visão e a competência, deixando sua marca indelével, ao levar adiante, com o devido respeito e a merecida reverência pelo trabalho que havia sido previamente realizado, a tão aguardada atualização desse livro.

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