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Dia da Mulher: Da queima de sutiãs, em 1968, ao discurso feminista de Patricia Arquette, em fevereiro deste ano, a mulher ganhou voz e hoje vive uma realidade de busca por empoderamento

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O mundo vive, hoje, um momento diferente. Um momento em que surge uma cultura que busca, a cada ação, a igualdade. Um momento em que a mulher se recusa a aceitar tradições impostas e busca construir uma identidade baseada naquilo que acredita e deseja. Do 8 de março de 1857 que contabilizou centenas de operárias mortas em razão de uma greve à queima de sutiãs de 1968, o pontapé inicial na luta feminista foi dado. Hoje, o movimento vai além: entre manifestações públicas, reivindicações de direitos femininos e posicionamentos críticos em relação à realidade das mulheres, a sociedade se depara com um cenário que busca colocar a mulher no centro da discussão. O chamado empoderamento da mulher não é uma causa de uma pessoa, empresa ou organização, mas é toda e qualquer atitude que busca fortalecer as mulheres e desenvolver a igualdade de gênero em qualquer ambiente. 

Entre ontem e hoje, uma nova mulher
O momento é de mudança e constante evolução. Para quem participa da luta pelo empoderamento da mulher, como Thainá e Mariah Teixeira, de 23 anos, que são irmãs e estão à frente de movimentos pela igualdade em Passo Fundo, a crença é de que qualquer mudança na estrutura da sociedade causa uma série de efeitos em situações comuns do dia-a-dia e é essencial para que se repense os direitos da mulher. “Empoderar as mulheres é buscar nosso próprio poder que desconhecemos devido a nossa educação machista e o patrulhamento moral do patriarcado que está sempre dizendo como devemos agir, ser, nos vestir, aonde ir”, comentam.

Nunca foi tão importante falar sobre o empoderamento feminino. No Brasil, a cada 12 segundos uma mulher é estuprada e o país ocupa o 7º no lugar no ranking de violência doméstica. No campo político, a representatividade é baixa: apenas 9,5% dos representantes no Congresso Nacional são mulheres. A nível mundial, conforme dados da Unicef, 100 milhões de meninas vão ser submetidas a casamentos forçados na próxima década. Dessas, 86 milhões ainda poderão sofrer mutilação genital. A mulher saudita, que pode, agora, votar e se candidatar a cargos públicos, não pode sair de casa desacompanhada. Os fatos, no entanto, parecem estar, ainda que vagarosamente e com resistência, em uma perspectiva diferente. Para a professora do Programa de Pós Graduação em História da UPF, que estuda questões de gênero, Marlise Regina Meyrer, existe uma mudança cultural em marcha: “É a mudança de uma cultura que via os papéis atribuídos historicamente às mulheres como naturais, para uma outra, que não mais aceita esta naturalização. A maioria das mulheres de hoje, tem escolha, autonomia. Mesmo que muitas ainda cumpram o papel que tradicionalmente lhe foi atribuído, hoje este papel pode ser uma opção, dentre muitas possibilidades, e não somente imposição, o que não quer dizer que esta não exista mais”, aponta.

A mudança que se vive se concretiza nas ações a nível mundial: a ONU tem como meta a erradicação de desigualdade de gênero até 2030. A questão, para Jacqueline Ahlert, Doutora em História Iberoamericana, vai além disso. “Vamos conseguir a equidade de gênero no âmbito profissional? Remuneração igual entre homens e mulheres pelo mesmo serviço realizado? Equilíbrio em cargos institucionais e públicos? Ou mesmo superar as ideias simplistas e superficiais de que mulheres são mais fracas, física e psicologicamente, mais emocionais e menos racionais e, por isso, menos capazes para uma suposta lista de tarefas?” questiona
O fato é que, ainda que em ritmo lento, a sociedade está diante da gênese de uma nova mulher. “É indiscutível os ganhos que as mulheres tiveram ao longo dos anos e, muitos deles podem ser atribuídos ao movimento feminista, através de constantes pressões e lutas”, comenta Marlise. Ela ressalta, no entanto, que a luta está, de fato, apenas no início. “As mulheres, hoje, têm seu espaço reconhecido no mercado de trabalho como profissionais em diversas áreas. Legalmente, ela tem os mesmos direitos que os homens. Mas a sociedade ainda não está livre da cultura machista, pois se no mercado de trabalho ainda encontramos diferenças salariais e na sociedade brasileira concepções de que "feministas são feias e mal amadas", consideradas dessexualizadas, têm amplo respaldo na esfera pública”.
Thainá e Mariah endossam a estereotipação que existe em relação ao movimento e ressaltam que, a partir do momento que a mulher conhece o feminismo ela se sente representada. “Dentro do feminismo, as mulheres se reconhecem como livres, que é o que o feminismo realmente defende. Ele luta contra um sistema que é machista e não contra escolhas pessoais como trabalhar ou não fora de casa, se depilar ou não. Poder escolher é um privilégio todos deveriam ter”, concluem.

A voz do feminismo
Mas não são só as ações de organizações e governos que refletem nas discussões sobre o papel da mulher na sociedade. Da moda à música, as mulheres resolveram falar mais alto: em 2014, o desfile da Chanel na Paris Fashion Week colocou o feminismo em pauta e, de repente, todo mundo passou a falar no assunto. Das projeções feministas nos shows de Beyónce ao discurso de Patricia Arquette por igualdade salarial entre homens e mulheres no palco do Oscar, arte e cultura também se voltam para questões sociais. “Meninas, principalmente negras, não tem essa representatividade que elas merecem. Quantas vezes elas veem uma figura como elas conquistando e subindo nas estruturas que sempre foram apenas dos homens? Essas mulheres negam a teoria de que esses espaços não são nossos. Elas mostram que esses espaços são nossos e que todas podemos conquistá-los”, comenta Thainá.

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