Pinceladas
O radicalismo dos discursos contra ou a favor do governo é que são preocupantes neste momento delicado em que vive o país. Assegurar que o cidadão possa protestar, da forma como quiser, dentro do Estado Democrático de Direito, não significa que o ato seja golpista. Da mesma forma, entender que este não é o momento para um impeachment porque não há elementos para acionar o instrumento constitucional, não representa que devemos concordar com a política imposta pelo modelo atual de governo. Das leituras diárias, pincelei algumas como contribuição para o entendimento. No mais, cautela e caldo de galinha não fazem mal a ninguém.
Respeito
“ Eu respeito profundamente a nossa democracia. Respeito aqueles que deram suas vidas para que pudéssemos ter o direito de falar, de expor nossa opinião, de não calar. Por isso sugiro a estas pessoas que acusam os seus discordantes de golpistas, que olhem para nosso passado recente, que busquem na nossa história os momentos em que as vozes de protesto eram caladas à força. É direito de um povo manifestar-se contra ou a favor de medidas, de governos, de partidos, de entidades, de crimes, de fatos... A partir do momento em que soubermos respeitar o direito do outro de falar o que pensa, seremos um país melhor. Quem não muda de opinião, é porque não sabe ouvir, dialogar, escutar. A política não é estanque, assim como nada no mundo é estanque”.
Ex-deputado Beto Albuquerque
Lacerda
“A história nos ensina que o lacerdismo acabou levando o país a várias tragédias: ao suicídio de Vargas em 1954 e à ditadura militar em 1964. Deixem Lacerda descansar em paz, ou ele não morreu?”
Professor José Ernani de Almeida, colunista de ON
Erros
“Já disse antes que quando os político aprenderem a admitir os erros as campanhas eleitorais passarão por uma revolução. Senão, imagine a presidente pronunciando o discurso abaixo. Não mudaria em nada a realidade do Brasil, mas as pessoas se sentiram mais respeitadas e talvez até dessem a ela o crédito que o som das panelas abafou.”
Daniel Martins de Barros, psiquiatra e colunista do Estadão
Preocupação
“Como todo brasileiro, vejo a situação atual com muita preocupação. Sem esperança, não vendo uma saída. É um momento bastante sombrio. Impeachment não é uma coisa desejável e ninguém se propõe a liderar isso. O PT usa o impeachment para dizer que o PSDB quer, mas não é verdade. Impeachment é como bomba atômica, é para dissuadir, não para usar.”
Ex-presidete Fernando Henrique Cardoso, em entrevista ao Estadão
Sem golpe
“Critica necessária, vivemos contradições de voto, representatividade e ideologias. Mas nem por isso defendo o fim da Democracia, e muito menos entro na onda idiota defendendo a Ditadura Militar. Muito menos acredito que ofender uma mulher seja a saída para nossos problemas. Temos problemas em todos os níveis da política, o problema não é a Presidência da República. Então não me venham bater panelas nas sacadas das suas coberturas de luxo achando que isso é mobilização. Não me venham fazer barulho sentados em seus cadeiras de restaurantes finos. Não me venham com passeatas no domingo, mas mesmo assim, são mobilizações sociais, da ordem do coletivo, dignas de prova que vivemos em uma democracia. Ou seja, podemos lutar sim por avanços, mas não desta ordem golpista de pedir a queda de um presidente recém eleito.”
Sociólogo e professor da UPF Ivan Dourado
Mentira
“Qualquer governante pode pedir suor e lágrimas. Só não pode fazer isso mentindo. O teor do pronunciamento da presidente Dilma Rousseff foi muito ruim. Por trás de palavras como “paciência”, ela camuflou uma versão dos fatos que ofende a inteligência. Disse que a crise internacional explica a conjuntura brasileira, que nem está tão ruim; a imprensa é que confunde, em vez de esclarecer. Depois de uma campanha em que mentiu sobre a situação econômica e energética do país, fica muito difícil ouvir a mesma irritante distorção da realidade.”
Jornalista Miriam Leitão, em O Globo