OPINIÃO

House of Cards

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Serviços como o Netflix parecem se sustentar, hoje, como a mais provável direção a ser tomada por empresas distribuidoras de audiovisual. O padrão da TV Paga, se era inovador há 10 anos, hoje é insifuciente pela fome do público de ir além das já saturadas opções que elas oferecem. Há poucos dias, o Netflix liberou a seus anunciantes um dos melhores – senão o melhor – filme de 2014, “O Abutre”, antes de qualquer outro serviço. Se por um lado o cardápio de opções, apesar de vasto em séries, ainda é restrito em filmes, principalmente cults, clássicos e opções menos óbvias, é um serviço promissor por um preço tão baixo.

Outro exemplo do potencial do serviço está em “House of Cards”. Poderia ser só na série, mas está na proposta com que o Netflix inovou ao lançar a primeira temporada, três anos atrás. Nada de esperar semana após semana para o próximo capítulo: a temporada inteira é liberada de uma vez. Assista tudo em dois dias, num feriado ou fim de semana, ou assista quando puder, mas não seja mais refém do que o CEO da empresa  chamou de “administração da ansiedade”. Nada, aliás, que muitos já não façam: há quem prefira esperar os últimos episódios de uma temporada para ver uma após o outro os episódios de sua série favorita.

No caso de “House of Cards”, há outros méritos para a ousadia do Netflix em investir em produções próprias: é uma das séries mais ricas em termos visuais e sonoras. Se a história, seus personagens e tramas são envolventes, a forma como essa trama é passada ao espectador coloca a série ao lado de outras precursoras como Breaking Bad e Sopranos, e de ótimas séries contemporâneas, como The Knick, True Detective e Penny Dreadful, como uma das melhores já feitas para TV. Se há episódios que ficam apenas no “correto”, há pelo menos 3 ou 4 episódios ao longo de cada temporada que, isolados, se revelam preciosidades audiovisuais. A forma como o enquadramento expressa relações de poder, como a centralização é usada para comentar o estado de espírito de seus personagens, como o som é utilizado de forma sutil na montagem alternada e para ligar fragmentos separados de história, ampliando seu ritmo, ou como a profundidade de campo se torna mais do que um mero recurso para nos fazer prestar atenção em nosso confidente, Underwood, também podem ser explicados pela presença de gente consagrada atrás das câmeras. David Fincher deixou sua marca na primeira temporada. Joel Schumacher – vá lá, nem tão consagrado assim, autor de filmes bons e bombas monumentais – e a veterana Agniezka Holland (nessa terceira temporada) comprovam que, definitivamente, a TV deixou de ser destino dos banidos e passou a se tornar um paraíso aos profissionais do cinema.

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Programações do Ponto de Cinema sendo definidas – e provavelmente anunciadas nos próximos dias. O que dá para adiantar é que, entre cursos rápidos, mostras, ciclos, exibições livres e eventos, haverá acesso a clássicos, grandes diretores e debates sobre cinema para quem quiser na região. Não haverá desculpa, portanto. Uma das iniciativas é dedicas um mês a um grande diretor com exibição de filmes e debates em torno de sua obra, com acesso gratuito. Nomes como Orson Welles (100 anos de nascimento), Alain Resnais e Mike Nichols (falecidos ano passado) e Woody Allen (que completa 80 anos) estão na pauta do projeto para 2015. Fiquem de olho.

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