OPINIÃO

Desimportâncias

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Clovis de Barros Filho foi inquirido pelo executivo que o contratara a palestrar a tecer os top ten, os dez valores mais importantes em escala decrescente da sociedade contemporânea. Clovis, embaraçado disse que não saberia por onde começar. Na insistência perguntou ao executivo se ele conhecia Deus. Com a resposta afirmativa Clovis concluiu que era óbvio que o diretor conhecia Deus, afinal diretores e Deus trabalham no mesmo andar, cruzam-se nos corredores, são íntimos. Então Clovis perguntou se aos dez mandamentos ditados a Moisés haveria preponderância de um sobre o outro, se o mandamento 4 seria mais importante que o 7, por exemplo. Não sabemos essa resposta e cada um de nós tem uma escala peculiar. A filosofia serve para isso, para tentar organizar uma razoável pasta de conhecimentos e um norte nos nossos caminhos. A partir da reflexão profunda, ou nem tanto, podemos elencar aquilo que no momento nos é mais importante ou os nossos valores. E a cada momento de nossas vidas há novas motivações que denodam esse ou aquele valor como preponderante.

Começamos em sequência de idade pelo amor dos pais e dos irmãos; passamos pela religião, pelo relacionamento com os amigos da escola, pela primeira namorada, pela universidade, o estabelecimento da profissão, fazer o pé de meia, garantir o futuro dos filhos. Depois envelhecidos com os filhos independentes fazemos o caminho inverso, voltamos a olhar para dentro de nós mesmos, reavaliamos o casamento, os amigos, pensamos em Deus e terminamos a vida entristecidos por deixá-la e também deixar nossas crianças que nos parecem tão desamparadas sem nossa vigilância. Acabamos a viagem com a visão de nossos pais, nossas referências mais consistentes. A cada ciclo priorizamos esse ou aquele valor, mas alguns são pétreos ou deveriam ser, como o amor, o empenho, a ética e sua aplicação ao que chamamos de moral. No entanto, o que mais perturba um homem é a busca de entender o significado da existência e o nosso papel no mundo, entender se a gente é importante realmente, imprescindível talvez e para quem seríamos indispensável. Aí, o mundo se estreita e percebemos que tal qual o comendador da novela que terminou seremos absolutamente esquecidos e substituídos.

Essa neura sobre a desimportância de nossas existências conduz ao melhor caminho, talvez o único, de viver intensamente sob o abrigo dos grandes valores cada momento como se não houvesse amanhã. A filosofia, ao contrário do que se pensa, aproxima a todos, nivelando-nos à insignificância e a nossa ignorância diante do todo.

A grande pergunta que um homem sensato e de valores superiores faz-se constantemente é se o que está fazendo é o melhor que poderia ter feito, é se isso que apresento é o melhor que poderia apresentar? A busca da resposta sobre a excelência do desempenho talvez conforte quando a gente já não for mais o protagonista, quando passamos a ser meros coadjuvantes.

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