Eles deixam de lado a família, a carreira profissional, as festas, o casamento. Na contramão da pós-modernidade, onde a religião não é mais prioridade para a grande maioria, alguns jovens escutam o chamado de Deus e decidem pela vocação sacerdotal, precisando abdicar de coisas comuns para a adolescência, como o namoro, as festas e a casa dos pais. A decisão tem ocorrido cada vez mais cedo, e o número de padres ordenados entre os 24 (idade canônica mínima para ser ordenado) e os 30 anos tem crescido anualmente. Daniel Rodrigo Feltes é um desses exemplos. Foi ordenado padre aos 25 anos no dia 14 de março deste ano, na paróquia Nossa Senhora dos Navegantes, em Nova Boa Vista. A opção radical do jovem, natural do interior de Sarandi, foi concretizada pelas mãos do arcebispo de Passo Fundo, dom Antonio Carlos Altieri. Daniel nasceu em 17 de novembro de 1989 e aos 15 anos ingressou no seminário, percorrendo um caminho de 10 anos no processo formativo de discernimento e amadurecimento na vocação e na fé. “A partir de 2003 comecei a participar dos encontros vocacionais para ir discernindo minha vocação. Após dois anos de acompanhamento vocacional e, tendo terminado o ensino fundamental na escola estadual de Nova Boa Vista, ingressei no Seminário Sagrado Coração de Jesus, em Tapera, no início de 2005. Lá realizei os três anos de estudos do ensino médio, além da formação específica do seminário”, comenta Feltes.
Para Daniel, a renúncia faz parte do processo que é chamado de discernimento, onde os adolescentes podem se adaptar. Mesmo muito jovem, ele soube distinguir o que fazia parte e o que não correspondia ao seu novo projeto de vida. “Não dá para assumir um projeto de vida e não viver de acordo com ele, é preciso ser coerente. Assim, a partir do acompanhamento espiritual, não tomei nenhuma decisão precipitada, mesmo diante das crises e dúvidas que me levaram a amadurecer e a fundamentar minha decisão. Estava sereno quanto as renúncias necessárias para ser padre”, explicou o novo presbítero.
Atualmente a Arquidiocese conta com cerca de 70 padres que realizaram suas formações nos seminários em Tapera e Passo Fundo. Desses, quatro tem até 30 anos de idade. O número parece baixo, porém, chama a atenção o fato de todos terem sido ordenados nos últimos cinco anos. Além disso, no dia 11 de abril os diáconos Carlos, de 29 anos e Bruno Silva, 32, serão ordenados sacerdotes e, outros 18 adolescentes estão nos seminários Nossa Senhora Aparecida, em Passo Fundo e Sagrado Coração de Jesus, em Tapera.
Ordenado aos 24 anos e hoje com 26, Diego Tonet também iniciou a caminhada religiosa bem cedo. “Entrei no Seminário aos 17 anos depois de concluir o Ensino Médio em Colorado, onde morava. E não entrei no Seminário inicialmente porque queria ser padre, entrei porque queria estudar e sair de casa. Foram dois objetivos iniciais, mas, na metade do segundo ano de Filosofia, comecei a me deparar com dificuldades. E foi essa crise que me fez olhar para a vocação e despertar para isso. Sempre digo: Deus escreve certo por linhas tortas. Ele me cativou pelo lado do estudo, mas depois segui o discernimento onde me ordenei diácono e padre”, conta Diego. Para ele, o jovem precisa estar ciente que terá muitos desafios ao longo da caminhada e, mesmo com pouca idade, precisa ter maturidade para encarar as crises que aparecem. “Dependendo da fase em que estamos, algumas coisas sentimos mais falta. Teve uma época, por exemplo, que a questão econômica pesou para mim. Hoje já não tenho esse problema. As crises e fases fazem parte do humano, mas é uma luta que enfrentamos pouco a pouco no cotidiano”, ressalta.