Os especialistas definem o medo como uma sensação, um estado de alerta que é demonstrado pelo receio de fazer alguma coisa, instigado por um sentimento de ameaça. Em artigo escrito para o Jornal Espanhol El Pais, a escritora e documentarista Eliane Brum, relata sua frustração e decepção com o Partido dos Trabalhadores (PT). Ela aborda a mais maldita das heranças do PT. Que tem muito em comum com a definição do que motiva o medo.
Segundo a autora, “o PT, ao trair alguns de seus ideias mais caros, escavou um buraco no Brasil. Um bem grande, que ainda levará tempo para virar marca. Não adianta dizer que outros partidos se corromperam, que outros partidos recuaram, que outros partidos se aliaram a velhas e viciadas raposas políticas. É verdade. Mas o PT tinha um lugar único no espectro partidário da redemocratização, ocupava um imaginário muito particular num momento em que se precisava construir novos sentidos para o Brasil. Era o partido “diferente”. Quem acreditou no PT esperou muito mais dele, o que explica o tamanho da dor daqueles que se desfiliaram ou deixaram de militar no partido. A decepção é sempre proporcional à esperança que se tinha depositado naquele que nos decepciona”. A frustração gera insegurança e a insegurança ameaça: causa medo.
Para Eliana Brum, o Governo do PT “priorizou um projeto de desenvolvimento predatório, baseado em grandes obras, que deixou toda a complexidade socioambiental de fora. Escolha inadmissível num momento em que a ação do homem como causa do aquecimento global só é descartada por uma minoria de céticos do clima, na qual se inclui o atual ministro de Ciência e Tecnologia, Aldo Rebelo, mais uma das inacreditáveis escolhas de Dilma. A síntese das contradições – e também das traições – do PT no poder não se resumem à Petrobras, mas exaltam Belo Monte. Sobre a usina hidrelétrica já pesa a denúncia que a construtora Camargo Corrêa teria pago mais de R$100 milhões em propinas para o PT e PMDB. É para Belo Monte que o país precisaria olhar com atenção agora. Na Amazônia, o PT reproduziu a visão da ditadura, ao olhar para a floresta como um corpo para a exploração onde as fraturas do partido ao chegar ao poder, se mostram em toda a sua inteireza. E é também lá que a falácia de que, quem critica o PT é porque não gosta de pobre, vira uma piada perversa”. Tais fatos permeiam uma realidade de insegurança e novamente, o medo.
Também para reverter a imagem negativa das medidas do ajuste fiscal, Dilma Roussef, declarou que nos últimos seis anos o governo se ajustou para que a crise não atingisse a população. Aumentaram subsídios, reduziram juros e desoneraram da cesta básica à folha de pagamento, foram tomadas medidas para reduzir o custo da energia e, quando o petróleo estava sendo negociado a R$120, não reajustaram os valores, “pegamos o dinheiro do governo e embutimos tudo dentro do orçamento, durante seis sistemáticos anos. Agora não temos como continuar absorvendo tudo”, afirmou a Presidente.
Outra face da instabilidade é que, ao invés de amenizar a disputa do “nós contra eles”, Dilma, continua acreditando que as forças do “eles” estão voltadas contra o Brasil. “Eles apostam contra o Brasil, mas não se pode apostar contra seu país. Só podemos superar essa situação momentânea de dificuldades juntos. Nós somos um país equilibrado no fundamental, no cerne, na base. Aprovando o ajuste, saímos juntos, no curto prazo, dessa crise. Por isso é importante ajustar. Não gostamos de ajustar, mas temos que ajustar para o país continuar crescendo”, defendeu a Presidente. Mas como acreditar que podemos “estar juntos”, se a próproa Presidente faz um discurso calcado na dicotomia esquerda/direita?
Além dos protestos que reuniram milhares de insatisfeitos com o governo, se fortalece o PMDB e Eduardo Cunha. O último, investigado em um dos maiores escândalos de corrupção do país, vem sendo chamado de “primeiro-ministro” brasileiro por adversários e aliados. Analisando o cenário político, um dos líderes da oposição, o deputado Mendonça Filho, do DEM de Pernambuco, diz: “Eduardo já até demite ministro. Com uma Presidente tão fraca, vivemos, na prática, um regime de semi-presidencialismo”. Esses fatos corroboram para o clima de insegurança existente: que tipo de investimentos teremos em um cenário que mobiliza tanto medo em relação a qualquer tipo de indicador de futuro?
O país está dependente de um Presidente do Senado Federal chamado Renan Calheiros, do Presidente da Câmara dos Deputados Federais, Eduardo Cunha, ambos do PMDB e, o governo entrelaçado à moribunda figura de José Sarney, também do PMDB, para se aconselhar, além da boa vontade do seu próprio partido, o PT, para se manter no poder. Um povo que depende de uma oposição fraca e tão comprometida quanto quem está no governo para fazer as mudanças necessárias, deverá refletir sobre seu real papel daqui para frente. Aliás, é o “daqui pra frente” que define a esperança. Esta é baseada na crença que resultados positivos possam acontecer, mesmo sob condições ruins. A esperança exige perseverança, mas também exige compromisso e fé de que as coisas possam um dia se tornarem melhores. Será que continuaremos esperando?
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