OPINIÃO

Vejo pessoas mortas, ouço vozes

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O excelente Sexto Sentido (1999) trouxe a alegoria à cerca de contatos imediatos de um garoto com pessoas que pertencem a outra dimensão e sua função é ouvir acalmá-los com o desiderato de ser médium ou mediador, uma espécie de ponte entre mundos diferentes, o mundo da matéria e o da alma. Em Duas Vidas (2000), o mesmo Bruce Willis, representa um quarentão debochado detentor de uma vida vazia que encontra um garoto de 8 anos (encontra a si mesmo) para buscar correção de um passado para reorientar um presente que construa um futuro digno. Em Algum Lugar do Passado (1980) há a ponte entre amores imorredouros. De qualquer forma são representações que dão a visão de que deve haver algo maior do que nossas inconsistentes existências.

Noite dessas estava insone, mais uma vez, por percalços triviais e acumulados, pequenas rezingas não completamente resolvidas. Ao amanhecer estava lívido como há muito tempo e uma música não saía de minha mente, era uma música que minha mãe cantava a mim e a meus irmãos para que nossas vidas tivessem o verniz necessário para a paz de espírito. Lembrei que sonhara a noite toda com ela, Dona Neca. No mesmo dia recebi telefonema de minha irmã perguntando se eu visitava com regularidade o túmulo de nossos pais porque ela sonhara a noite toda com a mãe que cantava o tempo todo para ela. Ouvimos vozes, aquelas mesmo que nunca calarão e que para sempre me deixarão criança de 8 anos novamente.
Nesta semana, semana santa, tão importante para nós ocidentais, estava a lembrar dos tempos de juventude e ainda médico jovem quando ía à Catedral e ficava fitando a imagem de Jesus com seus braços abertos. Eu ficava a perguntar a Ele que missão havia reservado para mim, que me desse uma luz, que ser apenas médico era pouco, que deveria haver algo maior. Estou permanentemente buscando meu desiderato, extremamente insatisfeito, inquieto. Talvez eu seja dos guerreiros de Nietzsche – em tempos de paz o guerreiro luta contra si mesmo.

As vozes, elas estão todo o tempo tentando mandar mensagens para a gente e normalmente não dispensamos tempo para ouvi-las. Quem sabe nessa semana santa a gente pensasse nisso, em descobrir a missão de nossas vidas, aquela que nos encherá de orgulho, aquela a que fomos destinados. Deve haver algo legal para cada um de nós.

Às vezes me perguntam por que tenho essa fixação, por que tenho que saber sobre o significado da busca. Respondo que o significado de minha busca é a busca do significado da existência.

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