OPINIÃO

A política do lame duck

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A expressão lame duck (pato manco) significa, entre outras coisas, uma pessoa ineficiente. No jargão da política norte-americana também quer dizer alguém que não conseguiu se reeleger e ainda continua no cargo. Pode ser um deputado, um senador, um governador ou o presidente.
O humor dos brasileiros e brasileiras, desde as manifestações de junho de 2013 vem se alterando. Fatos concretos sustentam esta mudança de humor. As manifestações de 15 de março e as de 12 de abril contemplam uma coleção de razões para o descontentamento. Nem tudo foi fabricado pela imprensa ou pela oposição (por que nem essa existe no Brasil). Não há conspirações nem conjugação dos astros contra o governo, quase um milhão de pessoas entraram no time dos sem-emprego, a inflação pulou para 8%, os juros subiram e os cintos foram apertados. Afinal, a contabilidade criativa foi invenção do governo do Partido dos Trabalhadores (PT).

O represamento dos preços, administrados pelo Governo Federal, ficaram abaixo da inflação média até dezembro de 2014. Foram, no ano passado, 5,32%, para uma inflação anual que estava em 6,4%. Depois deram um salto e, no primeiro trimestre, subiram mais do que no ano passado inteiro, chegando a 8,47% em três meses. Estão em 13,32% no acumulado de 12 meses. Os preços da energia começaram a subir ao longo de 2014, mas dispararam somente após o período das eleições. No último trimestre a ascensão chegou a 36,34%, 60,42% em 12 meses. Esse crescimento abrupto fez da energia elétrica, a grande vilã da inflação de 2015, segundo Miriam Leitão.

Em 13 capitais pesquisadas, a inflação está além do teto da meta. No Rio de Janeiro, Porto Alegre e Goiânia, está acima de 9%. Mais da metade da taxa de março é o reajuste da energia e 75% desse índice é resultado da combinação da energia elétrica e alimentação. O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) do primeiro trimestre foi desastroso para as famílias – o risco é dos reajustes ficarem acima disso para garantir a margem de lucro das empresas.

A recessão ajuda da pior forma combater a tendência de jogar os preços para cima. Quando a inflação está neste nível, de 8,2% em 12 meses, as empresas tentam garantir suas margens de lucro corrigindo produtos e contratos por um percentual acima da inflação corrente. Por causa da oscilação do câmbio, houve nos últimos tempos aumentos de custos de insumos e componentes importados.

Tudo isso alimenta o círculo vicioso que mantém a inflação em alta. As vendas de carros caíram 17% no primeiro trimestre, mas os preços aumentaram. Em outros produtos e serviços aconteceu o mesmo fenômeno. Neste ponto, a boa notícia foi a queda do dólar na semana anterior. Quem olhar para dentro do índice verá a história recente. O erro cometido pelo governo de reduzir os preços da energia de forma populista e eleitoreira está cobrando seu preço agora e quem paga o custo do erro é o próprio consumidor.

Diariamente, durante 100 dias, o governo deu motivo de desgosto aos brasileiros. Houve uma sucessão de números recordes ou históricos. A pior inflação de março em 20 anos, o maior rombo fiscal desde 1997, o crescimento forte da dívida pública, o aumento exponencial dos preços da energia, novos impostos e muitas notícias sobre o propinoduto descoberto na Petrobras.

Com tantas notícias ruins produzidas pelo governo na condução de suas políticas, a Presidente Dilma Rousseff se tornou a figura caricata do “lame duck”, mesmo tendo sido reeleita em 2014. Ela já não inspira e não transmite a credibilidade necessária de que vá ter forças para tirar o país da crise política e econômica. Aquela personagem de mulher forte e determinada está dando espaço para uma marionete manipulada por outras mãos.

Quanto à política econômica, mesmo que o ambiente continue tenso e que as expectativas dos brasileiros estejam cada vez menos otimistas, como explicar o fato dos protestos do dia 12 de abril serem expressivamente menores do que os de 15 de março? A população de repente ficou a favor do governo? Uma das explicações pode ser a perda de apoio político aos protestos. Depois que Dilma passou o controle do poder para o PMDB, o desejo de impeachment no parlamento morreu. Como o mercado vislumbrou que Dilma não manda em mais nada, desinvestiu dos protestos. O dólar cedeu, a bolsa subiu. Resumindo, não é mais de interesse da classe política aprofundar a crise. Uma nova sessão do teatro começou: os verdadeiros atores, vestidos de preto, sob um fundo mais negro ainda, manipulam as marionetes do espetáculo, Dilma cedeu e a fila andou. O tempo urge e o espetáculo segue... E agora, com menos plateia bradando, pois tanto direita quanto esquerda viraram novamente expectadores, o PT sangra, o povo paga a conta e o PMDB é quem lucra.

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