Nesta semana foi comemorado o Dia Nacional da Conservação dos Solos (15), data que se soma ao Ano Internacional de Conservação do Solo, instituído pela ONU para provocar a reflexão sobre o uso e as formas de manejo, fundamentais para garantir a produção de alimentos. Para marcar a data e o ano, várias instituições, entre elas a Emater/RS-Ascar, estão construindo uma proposta de programa estadual, que retome fortes ações de operação nesta área, a exemplo do que já aconteceu no passado, como a operação Tatu (de 1950 a 1970), o projeto Metas e o RS Rural.
De acordo com o diretor técnico da Emater/RS, Lino Moura, acreditava-se que o plantio direto tinha resolvido a questão da conservação do solo. No entanto foi constatado que essa técnica não é suficiente, pois há grandes perdas de solo e, principalmente, de água. “Mesmo em áreas de plantio direto, quando mal manejadas, o solo fica compactado, o que impede a entrada das raízes e da água em profundidades maiores”, analisa Moura. A água que não infiltra no solo causa erosão nas lavouras e nas estradas, depositando sedimentos nas baixadas e assoreando rios. “Essa água leva agroquímicos e contamina os mananciais hídricos, o que exige uma reflexão da sociedade em geral e dos técnicos”, defende o diretor.
Novo programa
Para o novo programa estadual de conservação dos solos, que está sendo construído em parceria entre Emater/RS-Ascar, Embrapa, Secretarias de Desenvolvimento Rural e Cooperativismo e da Agricultura e Pecuária e Fepagro, várias propostas para o Estado estão em elaboração. “A Emater tem um papel muito importante nessa estratégia, pela capilaridade e atuação junto a mais de 220 mil famílias de agricultores”, destaca Moura. Ele cita ainda as técnicas de manejo, a cobertura do solo, a rotação de culturas, a retomada da construção de terraços e a conservação da água nas lavouras, que garantem boas condições de estruturação e recompõem a boa fertilidade do solo, diminuindo os problemas de estiagem.
Uso sustentável do solo
O assistente técnico estadual em Recursos Naturais da Emater/RS-Ascar Edemar Valdir Streck explica que para conservar o solo é preciso usá-lo de tal forma que as taxas de erosão não sejam superiores à taxa de formação do solo. De acordo com ele, para o solo ter um uso considerado sustentável é preciso que a taxa de erosão seja inferior a 100 kg de terra por hectare/ano. “É preciso haver um equilíbrio entre taxas de erosão e de formação do solo, que ocorre a partir da decomposição das rochas”, diz Streck. A taxa de formação é variável de acordo com as condições climáticas locais e a presença de microrganismos, que formam o solo, auxiliados pela vegetação. Ele exemplifica que um milímetro de solo demora em média 250 anos para ser formado, o que corresponde a um valor aproximado de 80 kg de solo por hectare ano.
A expansão da agricultura, especialmente das monoculturas trigo/soja, a mecanização intensa e desproporcional à capacidade das lavouras, o desrespeito ao zoneamento agroclimático das culturas e a eliminação de algumas práticas conservacionistas, com redução da capacidade de armazenamento de água, são alguns fatores que aceleram o processo de erosão do solo. “Aliado ao uso e manejo inadequado do solo, vem ocorrendo no Estado um excessivo e desordenado uso de agrotóxicos nas culturas anuais, especialmente na soja, causando desequilíbrio ao meio ambiente”, analisa Streck.
A taxa de erosão varia de acordo com o regime e a intensidade das chuvas, do tipo e da declividade do solo, do sistema de uso e manejo adotado e em função das práticas conservacionistas complementares utilizadas, como o cultivo em contorno e transversal ao declive, a manutenção e construção de terraços e a implantação de cordões vegetados. “Sem essas técnicas, a água da chuva não é absorvida pelo solo e ocorre grandes perdas de água, redução no armazenamento de água no lençol freático e maior oscilação de vazão dos mananciais hídricos”, observa o técnico.
Desafios
O Estado possui um clima instável períodos de chuvas excessivas e outros de estiagens. Em função disso é necessário desenvolver ações de uso, manejo e conservação do solo e da água, para reduzir perdas por erosão e armazenar mais água no solo, conforme explica Streck. O técnico enfatiza ainda a importância do armazenamento da água das chuvas em barragens e açudes para atender os sistemas de irrigação e a regularização de vazão dos mananciais hídricos. O sistema de manejo do solo com rotação de culturas e plantas recuperadoras de solo, como o nabo forrageiro após colheita da soja precoce e depois com trigo ou aveia no inverno, é uma alternativa destacada como viável para melhorar as condições físicas e o armazenamento de água no solo.
A degradação do solo e a escassez de água impõem um novo desafio à tarefa de alimentar a futura população mundial. “Este alerta foi dado pelas Nações Unidas, declarando o ano de 2015 como o Ano Internacional dos Solos, para chamar a atenção da sociedade e setor público em geral da necessidade de desenvolver ações para aumentar a produtividade e a conservação dos recursos naturais”, conclui Streck.