OPINIÃO

Jorge, o panfletário

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Os inúmeros cabelos brancos me obrigam a refletir sobre a dualidade, tão comum em jovens, que atinge boa parte de nós, senhores responsáveis pelo país que aí está. Na mocidade éramos absolutamente duais: grêmio x inter, chimangos x maragatos, loira x morena, noite x dia, corpo x mente, verdade x mentira, amor x desamor, rico x pobre, claro x escuro. Para o jovem não há meia-verdade; o que não é plenamente verdadeiro é plenamente falso. Mas, não somos mais tão jovens assim, temos o cenho, os pés de galinha (nós homens, é claro) e já é hora de abandonarmos os panfletos e aprofundarmos a análise correta sobre o que nos cerca. Era eu ainda jovem e admirava Paulo Brossard, Pedro Simon e Fogaça, era libertário, era Eduardo Galeano. Era mais Hermann Hesse que Gunter Grass, devo reconhecer.

A hora que o país vive parece dividir a gente em fhcistas e aecistas x lulistas e dilmistas. O mundo, no entanto, não é somente isso ou estas possibilidades. Como discernir a verdade da mentira se há jornalistas panfletários e ranços de um lado e de outro? O que ler, onde ler, em quem confiar? Há um absurdo jogo de interesses que são espúrios à maioria de nós. Há um descrédito absurdo em relação à classe política quando deveríamos nos orgulhar dela porque nos representam, afinal votamos nessa gente, fizemos essas escolhas. O legislativo parece mergulhado em seus interesses meramente pessoais e alguns têm ampla folha corrida. Agora lemos diariamente, verdades ou mentiras, em veículos comprometidos ou não com a verdade. Resta-nos a justiça, mas, ela também está, em boa parte, comprometida com essa ou aquela bandeira, servindo aquelas pessoas que designaram seus nomes para as altas cortes.

Fernando Collor caiu, não somente pela roubalheira e uso ilícito do dinheiro de campanha política. Caiu também porque confiscou poupança de empresas e do povo causando quebradeira geral. É quando arde no bolso que a gente se toca. A presidente Dilma dirigiu o conselho de administração da Petrobrás e em sua gestão parece ter havido polpudo desvio de dinheiro público. Quando isso atingir a gente, vamos nos tocar.

Dizem que quando um país precisa de um salvador ou herói é porque ele está na berlinda. Um país legal é aquele que um cidadão comum pudesse dirigi-lo de forma digna, sem comprar imprensa, sem comprar deputados e senadores e nem judiciário para colori-lo de cores brandas ao invés das nuvens negras que se apresentam. Chega de dualismo, aprendamos a olhar além de nossos corações, é hora de tirarmos os lanços coloridos de nossos pescoços, é hora de curar-se da anomalia da visão que nos impede de enxergar ao longe. Mas, grosseiramente, estamos perdidos, estamos panfletários e movidos à paixão, sem capacidade de discernir com a frieza necessária. Sobram ou faltam informações fidedignas para o juízo de valor.

PS – a festa dos sessenta anos de Airton Marcondes estava genial, cheia de gente bacana cujas amizades condecoram essa família que de tantos bons exemplos de cidadania embelezam nossa sociedade. Lembrei de Biluca (Adelarmo Marcondes), pai de Airton, Júlio e Milton, lembrei de Edson Scandolara, amigos que se foram fisicamente mas, que são tão presentes.

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