Galeano denunciante
Eduardo Galeano andou pela América como peregrino errante e cumpria missão árdua penando perseguições nos países do Hemisfério sul, mas sempre obstinado em escrever. Escritor e repórter via evasão dos tesouros e um sistema dominador, cruel e imperialista, assolando política e economicamente os povos. As Veias Abertas da América Latina foi um breviário de denúncias jornalísticas que despertou inconformidade e rebeldia cultural de uma geração sufocada no direito de pensar e opinar ante pesadas ditaduras. Nós vivíamos o deplorável atentado à liberdade com a ditadura no Brasil, que devastou vontades livres durante duas décadas. Recentemente, após a abertura política em nosso país, muitas denúncias, formuladas pelo jornalista e escritor Galeano, foram confirmadas em inquéritos no Chile, Argentina, Paraguai, Uruguai e aqui também. Não sei por que alguns barões da imprensa tentaram desqualificar a missão de Galeano, talvez por ser repórter despido de estilo excelso como literato. Ou se o óbvio ofusca intelectuais de nomeada pela excelência do conteúdo. Num âmbito indispensável, no entanto, questionou o papel do Estado, que é pífio quando o povo não é visto. Por tantas coisas, a literatura brasileira e latino-americana, fica com importantes obras, que são documento e reflexão, mas perde um idealista e marco para a sociologia.
Tancredo e esperança
O retorno político do Brasil teve momento simbólico na passagem efêmera de Tancredo Neves que conciliou lideranças dos principais movimentos comprometidos com a volta da democracia. Ainda governador mineiro, em 84, começou peregrinação pelo país com o movimento pelas eleições diretas, após a frustração da Emenda Dantas de Oliveira. As pessoas estavam fartas de um sistema fechado, em degradação social. Com emoção enorme, gritos e lágrimas, as ruas cresceram na apaixonante luta por eleições diretas.
Memórias
Preciso relembrar isso, por que tive o privilégio imerecido de duas ocasiões históricas. Uma em Passo Fundo, distinguido como locutor oficial do comício das Diretas, Já! - uma verdadeira avalanche popular que reuniu cinco mil pessoas para ouvir grandes líderes nacionais. A segunda oportunidade, casual, foi no Congresso Nacional de Jornalistas em Belo Horizonte, onde participei, pela FENAJ, do encontro com Tancredo Neves, pré-candidato civil, das oposições, para enfrentar Paulo Maluf no Congresso Nacional. Ouvi Tancredo e guardo a entrevista gravada numa fita cassete, onde falou como possível novo presidente. Nada de radical nas suas palavras, apenas centralizado na aspiração libertária do povo, o voto direto. Este homem agonizou, desde o dia da posse até 21 de abril de 85, quando foi anunciada sua morte. Como editor do Jornal O NACIONAL, vivenciávamos madrugadas tensas, onde todos sofriam o medo do retrocesso político, a dor pessoal pela saúde do presidente, e a vontade apaixonada demonstrada pelo povo. Conheci um Brasil fortemente emocionado, tolerante com as diferenças das facções políticas, mas desperto e centrado na idéia de liberdade democrática. E Tancredo Neves representou isso. Esta imagem histórica, - nunca mais vou esquecer - nem as lágrimas de emoção, nem os gritos de desabafo, nem a euforia reprimida e cantada como “irmã muito linda” (liberdade) que a canção da América nos ensinou e Tancredo tanto ajudou a conhecer.
Retoques:
Os confrades da Mesa Um do Bar Oasis estarão reunidos nesta quinta-feira, no salão de festas do Vermelhão da Serra. Desta vez será o setor jovem desta bancada democrática, representada pelos anfitriões Rafael Brizola e Leonardo Castanho, que serão os anfitriões. Os goleadores da Mesa Um prometem! Muitos goles!
Surgem as primeiras condenações de acusados na operação Lava Jato. O esperado para o Brasil dar certo é mandar delinqüentes, ainda que poderosos, para a cadeia. Aos poucos algumas coisas vão para o devido lugar.
A paternidade responsável será mais eficiente que a redução da idade penal, como meta de combate à violência. E, se ainda não temos cadeia suficiente para os maiores, como será para esta nova faixa de penalização proposta?