Dez dias em São Paulo, confesso que estou exausto. Império do dinheiro, da correria, cidade que não dorme. O dia de abril amanhece entre seis e sete e anoitece as dezoito horas. As pessoas almoçam tarde e quando se percebem já está anoitecendo.
Fui a um curso de cirurgias do aparelho digestivo e percebi dois extremos: o cirurgião Ruy Jorge Cruz Jr, brasileiro radicado nos States e que faz maravilhas no Centro de Transplantes de Pittsburgh. Transplanta múltiplos órgãos abdominais, incluindo intestino delgado e fígado. Dispõe de tecnologia para tal. Dr Ruy nos enche de orgulho, dá-nos a esperança de um Brasil de gente decente, de gente que nos representa. O Centro de Transplantes onde trabalha cobra caução inicial de um milhão e meio de dólares. É isso mesmo que você leu. A despeito disso, Dr Ruy, cordato e simples realiza cirurgias que nós cirurgiões sonhamos fazer. É o médico que queria ser e não posso, é o cirurgião que gostaria de ser e não sou.
Fábio Tozzi também é doutor em medicina pela USP. Só que trabalha em Santarém, no Pará. Atende os pobres, sem caução alguma, população que usa calção e mais nada, ribeirinhos nas duas margens do rio Tapajós. Seu hospital é um grande barco chamado Abaré em constantes viagens que duram quarenta dias. Neste barco há consultórios, ginecologia, dentista, farmácia, laboratório, sala de cirurgia e recuperação, sala de informática...É, também, Fábio Tozzi, grande motivo de orgulho, é gente decente, gente que nos representa, é o médico que poderia ser, mas não sou. Por que não sou, por que não seremos? Talvez porque amamos o conforto, talvez porque a medicina que aprendemos seja para os que podem pagá-la, talvez porque não nascemos para os grandes desafios, talvez porque...
Encontrei Clóvis de Barros Filho, filósofo e palestrante famoso em uma farmácia. Falamos sobre a vida boa, a vida que vale a pena ser vivida e sobre seu novo livro “Somos Todos Canalhas” em que dispõe sobre as coisas que são verdadeiramente, nas suas essências e o que parecem ser, nas análises e nos enganos de nossas subjetividades. Papo cabeça, coisaetal.
Também fui pela primeira vez ao Morumbi para assistir São Paulo e Corinthians. Juro que busquei Gerson, Pedro Rocha e Rivelino, em vão. Vi apenas jogadores esforçados, jogo pobre tecnicamente, sem arte. Um time mais compacto e organizado, o Corinthians e um time sem alma e sem velocidade, o São Paulo. Vi, das arquibancadas superiores uma arbitragem fraca de Sandro Meira Ritti, o nosso árbitro da copa.
Sabem, São Paulo não me parece uma cidade de pessoas felizes, parece uma cidade de pessoas que se adaptam. Não percebo espontaneidade e nem leveza, percebo uma gentileza protocolar e forçada.
É somente uma teoria isso que escrevi aí. Talvez seja eu um canalha, canalha do livro de Clóvis Barros, analisando os times o árbitro, a cidade e as pessoas de São Paulo através de minha subjetividade. É bem possível que tudo seja maravilhoso e que eu esteja ficando rançoso, melancólico, ou velho ou...
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Também fui pela primeira vez ao Morumbi para assistir São Paulo e Corinthians. Juro que busquei Gerson, Pedro Rocha e Rivelino, em vão