"Tem lugares que ainda cheiram a morte"

Em viagem a Nepal para uma pesquisa do Mestrado em Educação, o passo-fundense Daniel Confortin vive de perto o cenário de destruição causado pelo terremoto do dia 25

Por
· 3 min de leitura
Desde o dia do terremoto, 25 de abril, cerca de 4050 voluntários de 34 países viajaram até o país para ajudar na reconstrução.Desde o dia do terremoto, 25 de abril, cerca de 4050 voluntários de 34 países viajaram até o país para ajudar na reconstrução.
Desde o dia do terremoto, 25 de abril, cerca de 4050 voluntários de 34 países viajaram até o país para ajudar na reconstrução.
Você prefere ouvir essa matéria?
A- A+

 

Há pouco mais de dez dias, o Nepal tenta se reconstruir depois que um terremoto de magnitude 7,8 atingiu o país no último dia 25. O abalo atingiu, também, a China, a Índia e o Himalaia e a destruição pôde ser vista em todos os lugares: da torre de Dharara, construída em 1832 na capital nepalesa Katmandu, à casas e construções históricas, os destroços estão espalhados pelo país que, agora, busca a reconstrução. Em viagem ao Nepal em função de uma pesquisa no Mestrado de Educação da Universidade de Passo Fundo, Daniel Confortin escapou do tremor por pouco. Ainda assim, viu de perto o cenário de destruição que se alastrou, adiou a viagem de volta e, agora, ajuda a população a encontrar uma nova forma de recomeçar a vida.

Há cerca de um ano, Daniel entrou em um avião rumo ao Nepal e lá esperava vivenciar uma experiência acadêmica e cultural. “Estou no Nepal há um ano e tenho desenvolvido uma pesquisa em parceria com a UPF, Kathmandu University e Rangjung Yeshe Institute sobre o sistema de educação monástica tradicional tibetana”, conta. O que ele não imaginava é que pouco antes dos exames finais, a experiência vivida até então seria transformada. O terremoto mais forte do país dos últimos 80 anos deixou, segundo o último balanço, 7,5 mil mortos e quase 15 mil feridos. “Minhas aulas estavam programadas para terminar na semana do terremoto, os exames finais deveriam ocorrer a partir do dia 27 até dia 1 de maio, por isso me locomovi até uma cidade vizinha, Pokhara, para estudar antes dos exames”, inicia. “Escapei do terremoto em si. Sentimos durante a viagem, na verdade. Foi forte, muito forte. No geral as pessoas entraram em pânico. Na cidade de Pokhara tivemos um aftershock muito forte no dia seguinte também enquanto almoçávamos”, lembra.

A consciência da destruição causada pelo terremoto, no entanto, só pode ser vista mais tarde. “Depois desse tipo de experiência você demora para se dar conta do que está acontecendo, acho que só percebemos a gravidade da situação dois dias depois e então começamos a nos mobilizar, pois estávamos presos na cidade, as estradas estavam em péssima condição. Ficamos uma semana atuando entre compra de materiais, carregamento de caminhões e preparação de equipes para atuar em regiões atingidas como Gorkha e outras”, comenta. A mobilização deu certo. Daniel faz parte de um sistema montado para arrecadar doações e encaminhá-las a quem precisa. A proposta é trabalhar com grupos locais e, também, através de um intercâmbio com o Brasil. “É impressionante o que conseguimos fazer entre ocidentais e nepaleses. Conseguimos R$ 23.000,00 em doações que foram revertidas em tendas, água, alimentos, colchões, lanternas, medicamentos”, enumera.

No entanto, Daniel acredita que ainda é preciso mais. ““Aqui em Katmandu o quadro é complicado ainda, muitas pessoas perdidas nas ruas sem onde ir, tendas, casas destruídas e pessoas com muito medo. É complexo, tem lugares que ainda cheiram a morte”, explica. A recuperação do país, para o estudante, anda lado a lado com a recuperação do próprio nepalês. “Em questão de tempo, são duas fases, pelo que eu percebo: o choque e a reconstrução (interna e externa). O choque passou, estamos nos últimos momentos de cuidados básicos antes da época das chuvas. Agora está começando a reconstrução externa, prédios, casas, vilas inteiras! Mas a pior vai ser reconstruir a identidade do nepalês, suas vidas, sua psicologia... em alguns casos impossível”, avalia.

Como ajudar
Daniel explica que além da ajuda material, é importante, nesse momento, reunir o máximo de informações sobre a situação do país. Por isso, o site www.ajudanepal.org, uma iniciativa de dois brasileiros que tem conhecimento do país, se propõe a ajudar na localização de brasileiros ainda não encontrados e, ainda, colaborar nas campanhas de arrecadação em apoio às vítimas do terremoto. “Ali estão listados vários canais de contribuição desde doações até voluntariado. Acho que uma grande ajuda é mesmo vir ao Nepal, pois a economia vai entrar em um processo complicado sem turismo - 80% dos turistas previstos para este ano não virão mais, por exemplo”, conclui.

 

Gostou? Compartilhe