Malfeitores e punições
Pessoas que atuam num patamar de corrupção mais repugnante, criminosos sem limites, exigem vigilância permanente da fiscalização da saúde pública. A preocupação, um tanto esquecida pela mídia, felizmente não significa omissão de alguns órgãos oficiais. Passaram dois anos da operação “Leite Compensado” que mobilizou sete fases de execução, na busca de provas contra a adulteração do leite. Fiscais federais e estaduais da agricultura, compondo a força tarefa com a polícia e Ministério Público agiram em 37 municípios, com o resultado de 79 denunciados, 42 prisões, 4 sentenças, cinco réus ainda presos e 83 veículos recolhidos. São 36 ações cíveis e dez milhões de reais resultantes dos TACs - Termos de Ajustes de Conduta. Parece incrível, mas ainda existem focos de adulteração.
Nova operação
Alguns focos de falsificação do leite foram desbaratados, especialmente nos casos de mistura de água e uréia com formol. A operação Pasteur, já indiciou a conivência de funcionários da fiscalização que participaram a de formação nestas quadrilhas de falsificadores. Ontem, a 8ª fase desativou uma quadrilha em Quatro Irmãos. Foram meses de trabalho para formar provas a fim de prender os criminosos que enriqueciam às custas da saúde do consumidor. O site da Lanagro (Laboratório de Agropecuária) previa a nova operação. O promotor que acompanha os casos entende que a insistência em adulterações exige persistência e habilidade na fiscalização de coletores e transportadores de leite.
Prejuízo
Já vimos que produtores de leite enfrentam problemas sérios a partir dos casos de adulteração, prejuízo que afeta indústrias e a credibilidade de um produto consagrado na alimentação do povo. O consumidor está voltando a consumir leite, mas foi incalculável o dano da é ofensa pública às pessoas de boa-fé. Além da crise resta a vergonha e o atraso. Mais desemprego no setor primário e de industrialização, dificultando comprovação de qualidade para metas de exportação. O governo não pode alegar falta de recursos para garantir a fiscalização, que tem exigido enorme esforço de técnicos, por falta de estrutura.
A tecnologia
Paira desconfiança nos meios da pesquisa. Embrapa, e no próprio laboratório do LANAGRO-RS, precisam ser urgentemente atendidos para não termos retrocesso na ciência e tecnologia.
Doutores
O Brasil acadêmico precisa discutir sobre a missão e investimento dos novos doutores. O Brasil lança 25 mil novos doutores no mercado. O crescimento de soluções científicas ou tecnológicas não tem a resposta aguardada. Algo está errado, salvo exceções, na forma individualista como é encarado o aperfeiçoamento, que precisa justificar o investimento do dinheiro público. Não é possível que continue a letargia dos doutos, essa nova elite cultural que pensa em soluções pessoais, permanecendo imperceptível diante de tantos desafios de evolução. Não é produtivo este turismo científico que privilegia títulos de doutorado na Europa, que não nos devolva soluções. Algumas teses mirabolantes dão status e certo ineditismo, mas não significam projetos viáveis para o Brasil. Ninguém melhor que os estudiosos pós-graduados para avaliarem a inaplicabilidade de projetos urdidos em outra realidade socioeconômica. Essa avaliação depende fundamentalmente do conceito e de valores individuais de cada estudioso. É urgente que se pense soluções para o país, a partir dos laboratórios e centros universitários. A nossa pesquisa, portanto, não pode ficar abandonada pelos orçamentos federal e estadual. Não temos nem a previsão para o suprimento de água nas grandes cidades. É terrível o que acontece hoje em São Paulo, apesar de ser estado de excelente nível universitário.
Retoques:
* Sua vida foi exemplo de postura profissional e ética política. Lauro Hagemann, falecido nesta semana, não se vergava ante o modismo efêmero. Voz única, clara, articulava as palavras com arte, e se impunha sem renegar o sotaque gaúcho. Foi uma grande perda.
* Luciano Azevedo, político jovem e experiente, Márcio Patussi, que vem despontando, e Juliano Roso, alçando vôo com ousadia, renovam literalmente a base local da política.