Muito conhecida como lábio leporino ou fenda palatina, a fissura lábio-palatal tem incidência de um caso a cada 680-750 crianças nascidas no Brasil, sendo a malformação congênita mais comum na face. A criança pode apresentar uma fissura no lábio, fissura no lábio e no palato, ou apenas no palato. Esta fissura pode ainda ser completa ou incompleta, com comprometimento uni ou bilateral.
Em um terço dos casos existe histórico parental, nos outros dois terços não há nenhum histórico familiar. Descobriram-se alguns genes associados à fissura lábio palatal e a possível relação com o uso de algumas drogas na gestação como o álcool, cigarro, anticonvulsivantes, etc. Contudo, é provável que vários fatores contribuam à ocorrência da fissura. A fissura pode ser diagnosticada intra-útero pela ultrassonografia, mas muitas crianças têm seu diagnóstico apenas no nascimento. Outras têm um diagnóstico mais tardio quando iniciam a sua fala. Essas últimas, geralmente apresentam fissuras de palato submucosas ou ocultas, onde a mucosa aparece íntegra, mas a musculatura e os ossos estão separados.
O tratamento inclui vários especialistas: o fonoaudiólogo, o psicólogo, o ortodontista, o otorrinolaringologista, o pediatra, o cirurgião plástico, a nutricionista, entre outros; para que a criança possa reabilitar-se com eficiência. O trabalho do fonoaudiólogo é importante atuando no pré e no pós-operatório com o objetivo de orientar a fase inicial da amamentação e, posteriormente, buscar o funcionamento adequado das estruturas e funções alteradas.
A intervenção fonoaudiológica deve ser precoce, já ao nascimento acompanhando e orientando todos os aspectos envolvidos na alimentação de um modo geral. As otites de repetição também são comuns nestes pacientes que devem fazer audiometrias regularmente, e se preciso for, intervir na reabilitação auditiva e de processamento auditivo. Na criança com fissura de palato, a presença da fenda cria um defeito anatômico que prejudica a correta emissão vocal e a articulação dos fonemas. Há uma hipernasalidade (voz fanha), e a criança pode ter dificuldade em se fazer compreender. Há o acompanhamento da aquisição e desenvolvimento dos sons da fala, podendo ocorrer também intervenções na linguagem escrita, e se houver, nas dificuldades de aprendizagem. Aspectos de respiração, mastigação e deglutição também são trabalhados.
O fonoaudiólogo acompanha o indivíduo com fissura do nascimento até a vida adulta. Através da fonoterapia, permite que este possa comunicar-se com eficiência, aperfeiçoando seu padrão de fala e a articulação de cada fonema, ajudando no desenvolvimento da sua linguagem e cognição de modo pleno, prevenindo ou corrigindo atrasos na aquisição e desenvolvimento da linguagem oral e escrita. Ajuda ainda facilitando uma alimentação segura, garantindo a nutrição e o prazer que a alimentação deve proporcionar através da correta mastigação e deglutição, promove padrões auditivos que permitam a comunicação, seja prevenindo ou reabilitando a audição, além de trabalhar por uma voz esteticamente aceitável, possibilitando a integração do indivíduo fissurado na sociedade em que vive.