OPINIÃO

Maio

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Às vezes vou beber água na infância, meio por saudosismo e meio por entender que daquela época inesquecível tirei os fundamentos básicos de ser aquilo que sou, por observação ou por absoluta cópia de meus amigos e parentes. Sem pieguismo, gosto de todos, aprendi com todos. Havia, talvez, mais contemplação: o cara subia num poste de luz para fazer algum reparo, e eles eram todos de madeira e os caras tinham umas botas com uma espécie de jogo de metal nas laterais que iam penetrando na madeira, facilitando a escalada e nós, absolutamente curiosos, sentados a observar. Era o nosso mundo da contemplação e deste modo, aprender. Na infância aprendi a detalhizar e isso me ajuda a escrever e a contar histórias.
Mas, veja bem, como dizia Collor de Mello, quando queria enrolar, as histórias acontecem para todos. Uns fixam e lembram, a outros as coisas passam batidas.

Aprendi que a vida tem que ter propósitos. O pai de Nilo Machado ensinou que como não podemos aumentar a lonjura da vida, podemos aumentar a largura dela. Assim como Benjamin Disraeli que escreveu: a vida é muito curta para ser pequena. Como se aumenta a largura, como se agiganta a vida? Com propósitos, com objetivos. Quais são os meus? Estudar-estudar, ler-ler, aprender-aprender, viver sol-chuva, amor-desamor, alegria e tristeza – porque tudo isso faz parte. A gente aprende coisas boas em toda parte, até nos bares da vida. Ali se bebe, divide-se a vitória e derrota, encantos e desencantos. Ali, entremeado, vejo bem, está sentado Negrage, homem de palavras positivas, de mil histórias, de mil testemunhos. Deixa um séquito de homens saudosos de sua doce companhia. Erguiremos mil copos em tua homenagem, escreveremos sobre os bares da vida, como combinei com Damian, entre tantos que quiserem colaborar.

Maio, aniversário de tantos parentes, de minha mulher Sandra a quem devo dez vidas de gratidão e de Ramon, meu guri, fonte de orgulho pelo que foi, pelo que é e pelo virá a ser. Ele é uma miríade: tem os olhos de minha mãe, a maneira de caminhar do avô materno, seu Antônio Dutra e a discrição de meu cunhado, Dr Cesar Martins. Nesse contexto deve, como a todos os filhos, ser entendido e encorajado. Traz na mala de garupa a genética de muitos, virtudes e defeitos, correções que deverão ser feitas ao longo da vida, com minha ajuda ou não. A passagem de pai Jorge para Ramon deve ser entendida como facilitação, Jorge deve ser um facilitador, um estimulador para que o filho entregue ao mundo represente a dignidade que o pai Jorge recebeu de seus antecessores. Quando, lá na frente, quando tiver de ser, na hora do momento derradeiro, o pai entendendo que a missão foi cumprida, poderá partir, fazer a travessia com a mansidão da paz, da certeza do cumprimento de desiderato deixando aos amigos a possibilidade dos brindes nos bares, testemunhas de alguns de nossos momentos mais felizes.

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