Mário Lima, é um pobre de mostruário. Desempregado, sustenta um filho de 12 anos com os R$70 que recebe do Bolsa Família. Entrou em um mercado imaginando que o benefício fora depositado em sua conta. Ao ser informado pelo caixa de que não dispunha de saldo, desesperado, tentou furtar uma peça de carne para levar ao filho. Cômico, se não fosse realmente trágico, esqueceu que no Brasil, cadeia é realmente o habitat para os ladrões de galinha: acabou preso. E, em um ato de grande desprendimento, os mesmo policiais que o prenderam, ao confirmarem sua história, fizeram uma “vaquinha”, pagaram a fiança e compraram os alimentos que faltava para sua subsistência.
Sérgio Moro é um ponto fora da curva na magistratura de primeiro grau. Titular de uma Vara periférica de Curitiba, tocava seus processos quando esbarrou no petrolão. Ao receber da Polícia Federal e da Procuradoria a confirmação dos indícios de que a Petrobras era assaltada, mandou enjaular corruptos e corruptores. No entusiasmo, deu de ombros para a máxima segundo a qual no Brasil, ladrão de colarinho branco não vai parta a cadeia. Virou celebridade instantânea!
E então, enquanto Mário vai para a cadeia e o juiz tem seu momento de glória, a Organização Não-Governamental (ONG) denominada Artigo 19, com sede no Reino Unido e representação no Brasil, revela dado que demonstra o quanto precisamos avançar no cumprimento da Lei de Acesso à Informação pelos órgãos federais. Os dados demonstram que o acesso à informação melhorou em 2014 em relação a 2013. Mas para eles, o Judiciário precisa aprimorar seus mecanismos: só 56% dos pedidos de informação enviados pela ONG tiveram respostas consideradas satisfatórias e, em 20% dos casos, o dado foi negado. O levantamento ocorreu só no âmbito federal: das 255 solicitações, 68,2% foram respondidas integralmente e 23,2%, parcialmente, 2% ficaram sem retorno e, em 5,5% dos casos, a resposta foi negativa - muitas dessas, em situações em que os órgãos alegam não ter o dado (fonte: Estadão).
O maior contrassenso do país foi protagonizado na semana passada, a Câmara dos Deputados aprovou emenda à Medida Provisória 664 que permite a flexibilização do Fator Previdenciário, mecanismo que limita o valor da aposentadoria de pessoas mais novas, medida que pode gerar aumento de custos. Após a aprovação da medida pela Câmara, Levy disse que é preciso avaliar quais os impactos e evitar a criação de impostos para cobrir custos. Vejam como a história se costura: o propositor do fator previdenciário foi o PSDB no governo de FHC. O PT fez bravatas e, naquela época foi contra. Hoje defende e, o PSDB vota para derrubar. Como entender?
Alguns pensamentos aparentemente desconexos me vêm à mente: (1) 85% do ajuste fiscal proposto pelo Governo está sendo pago pelo setor produtivo e pelas famílias. Ou seja, até o momento, o governo efetivamente não fez nada; (2) O lucro do primeiro trimestre, divulgado pela Petrobras que ficou acima do esperado pelo mercado, não foi fruto de melhora de processos ou de gestão, foi simplesmente o resultado do aumento nos preços dos combustíveis; (3) O Supremo Tribunal Federal vai contribuir para elevar o impacto fiscal nos próximos quatro anos em R$ 25,7 bilhões de reais, custo adicional referente ao reajuste dos salários dos servidores do Poder Judiciário. Aliás, segundo aumento dos servidores do Judiciário neste ano, fato que, dizem os especialistas, deve gerar um efeito cascata em todo funcionalismo.
Tentando ordenar e entender esta caótica lógica do pensamento político e econômico do Brasil, lembrei-me do período de infância e adolescência, aqui andando, ao sol, numa tarde de outono, saboreando uma deliciosa bergamota do pomar do meu avô. Recordei as eleições indiretas onde Tancredo se elegeu, os planos frustrados de Sarney, que hoje aumenta sua popularidade figurando ao lado da Presidente Dilma em vários eventos e o “caçador de marajás”, Fernando Collor, Presidente que acabou deposto. Lembrei-me do Itamar, que ressuscitou a industrialização do fusca, o FHC e seu Plano Real, o controle da inflação, o orçamento público e a disciplina fiscal. O Lula da inclusão social, do Bolsa Família, do etanol, da Petrobras grande, e, finalmente, lembrei da Presidente Dilma, a primeira mulher eleita Presidente, uma grande gerente que esbarrou em sua própria incapacidade política. A esta altura, meu avô, no auge de seus 81 anos, que caminha ao meu lado, interrompe meus pensamentos com toda sabedoria que a experiência de vida lhe deu, e num sorriso, cumplice, me olha e diz “Adriano, parece que hoje, ninguém mais se entende”. E eu penso: alguém duvida disso?
Adriano é Coordenador do Curso de Administração da IMED