OPINIÃO

Coluna Celestino Meneghini

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A necessária indignação
Há algum tempo me atormentava a remota possibilidade de que a saga da Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo resultasse abalada. Com as sucessivas edições, e os emocionantes resultados capazes de dignificar o hábito da leitura, os temores foram guardados no escaninho das percepções inconfessáveis. Acompanhamos desde o início da idéia da primeira Jornada, a bravura da Tânia Rösing e as colegas e pessoas aliadas perante o desafio do primeiro encontro. E chegou este dia. Embora já tivesse experimentado o impacto cultural ao conversar pessoalmente com autores consagrados na América Latina (Plá Rodrigues, Mariano Tissembaum, Washington Monteiro, Coqueijo Costa e outros), evidências da cultura jurídica que aqui estiveram, - a Jornada de Literatura foi de enorme efeito. O cancelamento da edição deste ano é um choque. É razoável entender que a falta de recursos financeiros tenha sido preponderante. A indignação, no entanto, é mais grave com a falta de indignação de quem deveria liderar setores responsáveis pelo patrimônio instalado com muito talento e dedicação. A literatura erigiu-se ao status de valor social e instrumento indispensável de libertação. A acepção da Jornada Literária de Passo Fundo como patrimônio inalienável passou a ser obrigação de todos e necessidade comunitária.

Na tribuna
Nos idos de 2004/2005 fomos impactados com a notícia do encerramento das atividades de um dos mais tradicionais estabelecimentos de ensino, a Escola do IE. Do mesmo modo que ressoa (hoje), para alguns, a notícia do cancelamento da Jornada de Literatura de Passo Fundo, havia uma tendência de que o assunto passasse despercebido na comunidade. E não foi assim. Com apoio da imprensa na repercussão de seu pronunciamento na Câmara de Vereadores, o então vereador Marcos Cittolin assumiu postura de coragem na tribuna. Desafiou instituições, a opinião pública e o brio histórico local, para tentar salvar o IE. Chamou a sociedade ao debate mobilizando a Câmara Municipal. Entende-se que o intolerável, em casos como este da Jornada, é a falta de indignação com um prejuízo comunitário reversível. Não faltam evidências comovedoras de respostas efetivas a catástrofes e tantas frustrações muito mais angustiantes que a falta de dinheiro para a literatura. Sabemos que se fala no retorno do evento para o ano que vem. O que se teme é que tenha sido rebaixada a Jornada como movimento singular, único, libertador, o mais sólido para nossa vocação. Por isso é bom pensar que ainda é pouca a indignação!

Retoques:
* Já deu para entender que ninguém é santo por ser médico, padre, ministro, advogado, promotor, juiz, ou pastor, etc. Nem falamos na aura dos parlamentares e mandatário de cargos eletivos, que anda meio apagada. É monstruoso, no entanto, o que diz o relatório sobre o descalabro no escândalo da Máfia das Próteses. A corrupção envolve fortunas desviadas por médicos, advogados e empresas fornecedoras.
* A história da corrupção não é novidade. Já se dizia no Império de Roma: “Non novum sed nove” – “nada de novo, apenas novamente”. Agora estão escavando o subsolo do BNDES. Podem aparecer monstros antigos ou recentes. O Supremo diz que não deve haver operação sigilosa com volumes monumentais de empréstimos a empresas. Isso parece ótimo.
* As pessoas podem continuar usando equipamentos modernos. Mas acho impossível que tanta tecnologia não tenha capacidade de permitir espaço para o companheirismo em fidelidades como a hora da refeição. Em nome não sei do quê, terceirizamos filhos para escolas e a fruição da vida familiar para criações tecnológicas das comunicações.
* É inadmissível abandonar a conversa com filhos ou achar que ausência se compensa com presentes do mundo de consumo.
* Haitianos e senegaleses sendo recebidos em Passo Fundo. Eles trabalham, não incomodam e são honestos!
* Em obras a Universidade Federal de Passo Fundo, a mais espetacular conquista para Passo Fundo e região nos últimos 50 anos.

 

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