Desde que foi anunciado o cancelamento da 16ª edição da Jornada Nacional de Literatura, em primeira mão, pela entrevista da coordenadora do evento, Profa. Tania Rösing, ao jornal O Estado de S. Paulo, e, depois, por meio do comunicado oficial do magnifico senhor reitor da Universidade de Passo Fundo, Prof. José Carlos Carles de Souza, não faltaram manifestações de toda sorte em apoio ao evento, partindo de escritores e de simpatizantes das letras em geral, que vão desde: declarações indignadas pelo acontecido, carta aberta de protesto pela falta de patrocínio (público e privado) para eventos culturais no País; mobilização/petição de escritores para tentar manter a jornada 2015; campanhas para arrecadação de recursos financeiros pró-jornada 2015; e críticas à falta de sensibilidade de autoridades públicas e de empresários sobre o valor de investimentos em cultura, etc.
Ainda que toda essa movimentação seja digna de aplauso, não se pode ignorar que tanto a Profa. Tania, na malfadada entrevista ao Estadão (bastante criticada pelos veículos locais de comunicação), quanto o comunicado oficial da UPF, anunciando o cancelamento da Jornada Nacional de Literatura em 2015, não deixaram margem para qualquer dúvida que a retração econômica ora em curso no Brasil fazia mais uma vitima: a 16ª Jornada Nacional de Literatura. Indiscutivelmente, não se faz nenhum evento da magnitude das jornadas literárias de Passo Fundo sem recursos financeiros vultosos e disponíveis em tempo hábil para que os representantes legais pela organização possam firmar os compromissos contratuais e, posteriormente, proceder a competente prestação de contas dentro de normas exigidas pelos órgãos de controle. Vista de fora, a solução para o impasse, realizar ou não a jornada em 2015, pode aparentar que é simples. Todavia, não é assim. A falta de tempestividade para a tomada das decisões pode acarretar impasses futuros intransponíveis aos envolvidos. Há que se colocar na pele dos gestores da UPF para entender e respeitar a decisão que, estamos cientes disso, foi muito mais dolorosa para eles do que para qualquer um de nós, que, passivamente ou não, apenas assiste os acontecimentos.
Nós, da Academia Passo-Fundense de Letras, que desde 1938 estamos presentes na vida cultural de Passo Fundo, não podemos, nessa ora, nos furtar de dizer que ficamos entristecidos com o acontecido. Tristes, mas esperançosos e confiantes nas instituições que outros caminhos serão encontrados para viabilizar, senão ainda em 2015, num futuro próximo, esse monumental evento cultural, que, parafraseando Castro Alves, mais que qualquer outro, é bendito por semear leitores, leitores, à mancheia.
Neste episódio, o que não cabe são críticas a UPF, que, independentemente das circunstâncias, antecipa gastos - em pessoal, estrutura e outros custeios, como viagens em busca de patrocínios; por exemplo - com o evento, que não é feito, como pode aparentar externamente, apenas na semana da jornada, mas diuturnamente nos 365 dias de cada ano. Também merece menção a Prefeitura de Passo Fundo, que já havia disponibilizado, com previsão no orçamento municipal, R$ 750 mil para o evento de 2015.
E, por fim, deixamos o nosso carinho e reconhecimento ao trabalho da incansável Profa. Tania Rösing, que, se jogou a toalha, é porque não havia jeito mesmo. Especialmente, nesse momento, que, na mente da Tania, talvez estejam retumbando não mais os versos de João e Maria - “Agora eu era o herói/ E o meu cavalo só falava inglês/ A noiva do cowboy/ Era você além das outras três...” -, cantados à capela por Chico Buarque ao receber, pelo romance Budapeste, o 4º Prêmio Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura, em 2005, mas sim, na mesma voz do sedutor escritor dos olhos cor de ardósia, uma estrofe da canção Pedaço de Mim: “Oh, pedaço de mim/ Oh, metade arrancada de mim/ Leva o vulto teu/ Que a saudade é o revés de um parto/ A saudade é arrumar o quarto/ Do filho que já morreu”.
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