Um novo formato para 2017

Consultoria realizada por duas empresas de São Paulo aponta mudanças na Jornada Nacional de Literatura

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O anúncio oficial, feito há pouco mais de uma semana pela reitoria da Universidade de Passo Fundo (UPF), cancelando a Jornada Nacional de Literatura, desencadeou uma onda de manifestações de apoio ao evento, principalmente nas redes sociais, e lançou dúvidas sobre o futuro da movimentação literária na cidade. Prevista para acontecer entre os dia 28 de setembro a 2 de outubro, a 16ª edição, orçada em R$ 3,5 milhões, vinha sendo tratada pelos organizadores como o fechamento de um ciclo. “Seria a última no modelo conhecido do público nos últimos 34 anos” declarou a vice-reitora de Extensão de Assuntos Comunitários, Bernadete Dalmolin. 

Internamente, a discussão sobre a necessidade de mudanças de formato ganhou força no ano passado. A Universidade chegou a contratar duas empresas de consultorias de São Paulo. Juntas, elas elaboraram um plano estratégico apontando novos rumos para a edição de 2017. Distribuído em 40 páginas, o material entregue este mês, está focado em dois desafios centrais: encontrar um caminho para garantir a continuidade sustentável da Jornada; e melhorar a forma de ela se comunicar com seus públicos de interesses.

“A Jornada está vivendo hoje um movimento de transição. Isto porque até 2013, ela veio se desenvolvendo em um crescimento constante e com apoio de patrocinadores. Porém, esse crescimento não foi planejado ou medido e isso acarretou uma desorganização interna a qual acabou prejudicando a próprio continuidade sustentável da Jornada. Agora é o momento de repensar a Jornada de forma estratégica para que ela continue crescendo de maneira organizada e planejada” dizem as empresas na apresentação do trabalho. O diagnóstico aponta para uma redução orçamentária e aumento de público, a partir de um melhor aproveitamento da estrutura física disponível em Passo Fundo e envolvimento maior da comunidade. “É um olhar de fora sobre a Jornada, uma análise prévia que será aprofundada entre as pessoas envolvidas neste processo” observa Bernadete.

Insustentável
Mesmo com uma redução de valores em relação à edição de 2013, a comissão organizadora não conseguiu atingir os R$ 3,5 milhões estimados para realização da movimentação literária deste ano. Até o anúncio do cancelamento, dos R$ 3,4 milhões aprovados pela Lei Rouanet (governo federal), havia sido captado apenas R$ R$ 173 mil. Pelas regras do Ministério da Cultura, a movimentação bancária dos valores somente é liberada após a captação mínima de 20% do valor total previsto. Na Lei de Incentivo à Cultura (Lic), do governo estadual, foi aprovado projeto para R$ 1,017 milhão, e captado R$ 570 mil. Recursos prometidos pelas empresas e que ainda não haviam sido repassados para a UPF.  Sob o argumento da atual conjuntura econômica do país, órgãos públicos e privados, considerados tradicionais colaboradores da Jornada, negaram patrocínio para esta edição. Entre eles, o Fundo Nacional de Cultura (FNC), e o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Juntos as duas entidades subsidiavam aproximadamente R$ 800 mil. “Estivemos por duas vezes no Ministério da Educação, inclusive uma delas antes das eleições do ano passado, e fomos informados de que não haveria disponibilidade dos recursos” revela Bernadete.

Durante o chamado período de pré-produção da Jornada, duas pessoas viajaram praticamente toda a semana para as mais diferentes regiões do país em busca dos recursos. A música tema da 16ª edição, cujo tema era Leituras e leitores em liberdade, já havia sido composta pelo músico Humberto Gessinger. Peças de design também estavam prontas. “Todo esse processo envolveu um custo de aproximadamente R$ 200 mil por parte da Universidade. Estávamos prontos para disparar as assinaturas dos contratos com os autores e artistas e não tínhamos os recursos. Também estávamos no prazo limite para realizarmos a licitação do som e da estrutura. Tivemos de cancelar”, lamentou a vice-reitora. A Jornada deste ano contaria com a participação de 106 autores nacionais e internacionais.

Redução de estrutura esbarra nos projetos da LIC e Rouanet

Assim que notícia sobre o cancelamento da Jornada Nacional de Literatura foi oficialmente confirmada pela reitoria da UPF, diversas manifestações de apoio surgiram, principalmente nas redes sociais. Escritores como Ignácio de Loyola Brandão, Marcelino Freire, Frei Betto e Milton Hatoum, figuras tradicionais do evento, criaram uma petição no site Avaaz, com a intenção de demonstrar aos órgãos públicos a importância da Jornada.

"Não entendemos como um evento da grandeza e da importância das Jornadas Literárias é esquecido, por instituições e patrocinadores. Perdem, com essa atitude negligente, a cidade Passo Fundo, o estado do Rio Grande do Sul, o Brasil e o mundo. Perdemos todos nós, que sonhamos com um Brasil consciente do seu valor e da sua cultura. Um Brasil leitor, que um evento como este está ("estava") ajudando a construir", afirmam em um dos trechos do texto.

Matéria completa na edição impressa de O Nacional

 

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