Paradoxo
Vivemos um paradoxo: de um lado, a produção crescente de alimentos e estoques como nunca houve em todo o mundo; de outro, 800 milhões de pessoas com deficiência nutricional, dentre os quais milhares em situação de extrema necessidade. Neste paralelo, um grande desafio: acabar com a distância entre o que se tem para quem não tem. A reflexão fez parte de um debate que reuniu representantes de organizações do agronegócio brasileiro e a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), proporcionado pela multinacional Basf, em Campinas, no começo desta semana. A projeção destas organizações é alcançar as metas de erradicação da fome até 2050, quando o Planeta terá 9,5 bilhões de pessoas. É consenso de que este processo passa por novas tecnologias, pela sustentabilidade (produzir mais em menor área e em cultivos integrados) e pelas políticas públicas dos governos. Neste contexto, também é consenso de que o Brasil preenche todos os requisitos em direção a este futuro.
Potencial
Pesquisador da Embrapa, Décio Luiz Gazzoni, um dos debatedores, não tem dúvidas quanto ao potencial nacional. “O Brasil tem plenas condições de resolver esta equação porque tem área para produzir e tem produtividade. Além disso, pode aumentar a produção, sem avançar nas áreas de preservação, nas florestas, etc. Precisa, neste momento, buscar alternativas para solucionar questões voltadas as mudanças climáticas, através de novas tecnologias”, disse.
Reflexão
No quesito políticas públicas, o representante da FAO, Alan Bojanic, elogiou os investimentos governamentais dos últimos 10 anos, especialmente o fortalecimento da agricultura familiar, o que contribui no processo de se alcançar a meta de erradicação da fome. Na visão otimista de Bojanic, isto será possível até 2030. Já o consultor da Federação da Agricultura e Pecuária do Brasil, Roberto Lúcio Rocha Brant, fez duras críticas ao que considera formação de agricultores a partir do movimento sem terra. “Estamos no caminho equivocado. Ao invés de distribuirmos terras para trabalhadores sem terra, precisamos distribuir conhecimento para quem já está na terra”, defende.
Mão de obra
O alerta de Rocha faz sentido se considerarmos que a agricultura depende do trabalho de homens do campo e a lógica tem sido inversa: filhos de agricultores saem de suas propriedades em busca de desafios nas zonas urbanas. Faltam agricultores e mão de obra especializada para a atividade. De nada adianta a tecnologia, áreas e conhecimento, se não há matéria prima essencial desta cadeia: o homem.
Avanços
O presidente da Associação Brasileira do Agronegócio, Luiz Carlos Correa Carvalho, destacou que o agronegócio tem segurado o PIB do Brasil. Nos últimos 15 anos, ele cresceu 20%, enquanto outros setores como construção civil, indústria da transformação e comércio não tiveram o mesmo desempenho. “É preciso reconhecer este desempenho e avançar na solução de problemas históricos como a falta de infraestrutura, péssimas condições de logística e reduzir a burocracia que torna lenta, por exemplo, a liberação de insumos”.
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