OPINIÃO

A corrida de Wells

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Um dos maiores êxitos editoriais de H. G. Wells foi “The Outline of History” (O perfil da história). Este livro, com primeira edição em 1920, teve sucessivas atualizações e novas edições, em diferentes formatos e línguas, até os anos 1970 (uma obra que continuou sendo reescrita mesmo depois da morte do autor. Wells morreu em Londres, em 13 de agosto de 1946). Nele pode ser encontrada a famosa assertiva: “a história humana se transforma, mais e mais, numa corrida entre a educação e a catástrofe.” De fato, pelo que mostra a história do mundo até os dias atuais não se pode contradizer H. G. Wells, pois, efetivamente, “entramos numa corrida entre a educação e a catástrofe”.

Há que se apostar na vitória da educação. Mas, para isso, são requeridas ações que vão muito além das salas de aula, especialmente em agricultura. Necessitamos de uma educação que estimule a imaginação e o desenvolvimento do pensamento crítico e independente, que cultive a consciência da necessidade de interligações e que, prioritariamente, ensine princípios básicos, visando à construção de um planeta mais justo, solidário e sustentável.
As instituições de ciência e tecnologia do setor agrícola têm, acima de tudo, responsabilidade com o desenvolvimento rural. Nós da Embrapa Trigo entendemos que a busca deste desenvolvimento almejado passa, mais que qualquer coisa, pela construção de um processo educacional que prime pelo respeito e pela incorporação da sabedoria popular e do conhecimento tradicional à ciência e tecnologia de ponta. Uma situação em que, a participação dos atores locais, torna-se indispensável. É nesse contexto que, por exemplo, são contempladas as ações de intercâmbio e capacitação tecnológica que são levadas a cabo no formato de unidades de referência instaladas em campos de produtores. É uma espécie de nova pedagogia, caracterizada pelo comprometimento das partes, pelo compartilhamento de conhecimentos e de experiências, e pela responsabilidade social e com o ambiente.

A grande questão, e não poderia ser diferente, é a busca do desenvolvimento rural sustentável. Ainda havendo quem pense o contrário, nesses casos, tecnologia e inovação são fundamentais. Especialmente quando se entende por comunidade sustentável aquela capaz de satisfazer as suas necessidades e aspirações sem diminuir as chances das gerações futuras. Para tal, no nosso entendimento, uma tecnologia, hoje, para merecer o rótulo de inovação, tem que ser capaz de gerar renda e não somente aumentar gastos, como ocorre em alguns casos. Mas, também não é suficiente só considerar o aspecto econômico. Nada pode justificar a geração de renda a qualquer custo. Por exemplo, a expensas de uma degradação extrema e insustentável do ambiente (embora não se possa ignorar que a agricultura, por si mesma, já é uma intervenção extrema na natureza). Portanto, não dá para simplesmente desconsiderar a necessidade de avaliações de impactos no ambiente de tecnologias ainda desconhecidas. E mais: nunca se pode perder de vista os aspectos sociais afetados pela inovação tecnológica. Intervenções no meio rural com tecnologias não comprometidas socialmente podem acabar trazendo mais problemas que propriamente benefícios. Eis a essência do desenvolvimento tecnológico que julgamos adequado para o almejado desenvolvimento rural nos tempos atuais. E que para ser viabilizado passa, inegavelmente, por amplo processo educacional.

Em síntese, em todos os segmentos da sociedade, inspirados por H. G. Wells, precisamos derrotar a catástrofe pela educação.

 

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