Foi com base nas reminiscências de uma carreira acadêmica de, pelo menos, 48 anos, vinculada ao Departamento de Matemática Aplicada e Física Teórica da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, que J. Michael T. Thompson se valeu para, em instigante artigo, publicado na edição espacial da revista Philosophical Transactions of The Royal Society A (Thompson, J.M.T. Advice to a young researcher: with reminiscences of a life in science. Philosophical Transactions of The Royal Society A, v. 371, 2013.), alusiva ao aniversário de 75 anos desse renomado pesquisador britânico, para aconselhar os chamados iniciantes no mundo da ciência (até o limite de 10 anos após o começo do doutorado) a construírem uma carreira científica bem-sucedida.
Usando uma linguagem relativamente informal, que, inclusive, ao abordar certas particularidades do dia a dia da vida acadêmica, torna a leitura do texto bastante divertida, J.M.T. Thompson conseguiu construir, pela experiência vivida, um guia de referências, que, se bem usado, pode ser valiosíssimo para a formação de cientistas. Inicia afirmando que suas orientações não são para os gênios, mas para quem tem certo talento para a prática científica, uma vez que o talentoso faz o que pode e o gênio faz o que precisa ser feito.
Admite que partir de certo nível de inteligência (QI mínimo) não há mais ganhos, assumindo maior relevância o entusiasmo, a capacidade de trabalho, a diligência, a perseverança e a criatividade. E exemplifica que, fazendo uso desses atributos, alguém com menor nivel de inteligência, porém com maior persistência, pode atingir grau mais elevado de eminencia que outro que possua uma relação inversa entre inteligência (elevada) e os demais atributos desejáveis (baixos).
Há que se cultivar ideias, frisou J.M.T. Thompson. As ditas boas ideias na ciência não acontecem por acaso, como podem supor as pessoas que são alheias ao mundo das academias, mas sim emergem quando se dá à mente os meios adequados para encontrá-las. Por isso, experimentos bem feitos são fundamentais e o abandono de hipóteses favoritas é indispensável. Não raro, deixando de lado a essência do método científico (a rejeição das hipóteses testadas), ingenuamente ou não, muitos cientistas, invertendo a lógica da própria ciência, tem sido levados a não medirem esforços para demonstrar a veracidade das suas preferências.
Fazer uma descoberta relevante na ciência começa pelo estudo de um problema importante. Eis um detalhe que não pode ser relegado a segundo plano, especialmente quando se está no início de carreira. Nessas ocasiões, nem todos, necessariamente, sabem o quão importante é ou não um problema, que pode exigir muito esforço e levar a lugar nenhum ou a descobertas que nãos ervem para nada. É quando a figura do orientador ou mentor científico, ao exercer o papel que lhe compete, pode definir o rumo de muitas carreiras. Nesse ponto, ter humildade em aceitar que saber o aquilo que você não sabe é mais importante que saber o que você sabe, pode ser o diferencial nas suas escolhas. E, ainda, iniciar corretamente o experimento crucial, não importa o tempo gasto na definição da metodologia e das técnicas de análise, pode significar a utilidade ou não dos resultados que serão obtidos.
Entre os conselhos genéricos deixados por J.M.T. Thompson, perpassam a importância da sinergia na ciência, realçando que quem nada oferece, sob o ponto de vista teórico e intelectual com os pares, também não recebe nada em troca, e que a discrepância entre resultados não deve ser ignorada ou deliberadamente ocultada, pois é daí que pode surgir uma descoberta relevante, como foi o caso do eco do Big Bang, que virou uma evidência chave na teoria do universo em expansão.
J.M.T. Thompson, não ignorando o valor das métricas da produção científica (fator de impacto, índice-h, etc.), finaliza com uma reflexão: “quando uma métrica se torna o alvo, ela deixa de ser uma boa métrica”.