A não realização da Jornada Literária de Passo Fundo deixou estupefatas a cultura e a literatura da cidade, do estado e até do Brasil. Ficamos tristes, talvez um pouco desesperançados, mas acreditei nas raízes de um evento com trinta anos, um projeto com extensa lista de serviço prestados à leitura e literatura da região. Dito e feito. As raízes alastradas pela consciência literária coletiva foram aflorando ao longo do tronco principal.
Tanto em Passo Fundo, como na região, começo a notar as reações. Se bem não teremos um grande evento centralizado, estão vindo à luz um sem número de iniciativas para consolidar a leitura. São escolas públicas e privadas, municípios, secretarias da educação ou da cultura, todos em busca da formação de leitores literários.
Se, num primeiro momento, a árvore da literatura não frutifica este ano na Jornada, brotos radiculares demonstram a fertilidade do sonho da professora Tânia. Colocando numa cesta os frutos de todas essas pequenas árvores teremos uma colheita superior ao fruto de uma árvore única.
Esta semana ministrei uma oficina de três turnos para dois grupos de professores das escolas municipais da cidade. Foram quase setenta educadores. Conversamos sobre as características de um texto literário e como identificar a literatura de qualidade para crianças e jovens. Também praticamos a escrita literária para que os professores saíssem com ferramentas mínimas para auxiliar os alunos, não apenas para a escrita de redação, mas para o texto literário em sua multiplicidade semântica.
Nesta mesma semana, estive também em duas outras escolas da cidade: EENAV, com uma palestra “O professor: leitor e criador do mundo”, e na escola Antonino Xavier, com uma conversa a que dei o título de “A leitura literária como espaço de afeto na escola”. No primeiro semestre, também já iniciei trabalhos de leitura literária envolvendo alunos das escolas: Anna Willig e EENAV (do estado) e nas seguintes escolas municipais: EMEI Cantinho Feliz, EMEI Pe. Zezinho, EMEF Wolmar Salton e EMEI Mundo da Criança. Também vou trabalhar numa escola estadual de Marau, Vila Maria, Pontão, Lagoa Vermelha, Novo Barreiro, e Palmeira das Missões. Isso apenas aqui nas cidades próximas. No restante do estado, tenho agendamentos de atividades envolvendo leitura e literatura numa média de 4 eventos por mês até o final do ano, e 3 datas reservadas para 2016. Em conversa com outros autores gaúchos, a movimentação é semelhante.
Além desses eventos significativos, estamos em tratativas para criarmos um prêmio de literatura para os autores de Passo Fundo, processo este em discussão pela Secretaria de Cultura com apoio da Prof. Fabiane Burlamaque, atual coordenadora da Jornada, e assessoria da Associação Passofundense de Escritores que, embora ainda sem personalidade jurídica, movimenta-se com agilidade na pessoa do nosso presidente de fato, Júlio Perez. Temos um grupo de escritores que nos reunimos a cada quinze dias para discussão de literatura, estamos publicando um livro de contos pelo SESC e iniciamos a escrita de outros contos para lançamento na Feira do Livro de Passo Fundo. Como se não bastasse, a Secretaria de Educação, por sugestão minha, deve lançar o concurso Pequeno Escritor Passofundense para alunos das escolas municipais.
A Árvore da Literatura, irrigada pelo Rio Passo Fundo, embora de ferro, está se esparramando por muitos lugares. Como dizia Jesus, uma árvore deve ser julgada pelos seus frutos. Enumerei apenas alguns deles.