Não aprecio de qualquer maneira flautas ou deboches seja de Grêmio para Inter ou o inverso.Acho que nada contribui e, ao contrário, cria desavenças inconcebíveis entre pessoas comuns como nós que nada têm a ver com o ultrapassado e falido futebol praticado no Brasil. Acho que o Inter tem que rever seus conceitos, acho que o Grêmio foi apequenado por direções desastradas. Ambos devem mais futebol a seus heróicos torcedores que pagam mensalidades ou compram pacotes para assistir os tediosos jogos.
Em 1982 era eu doutorando e, para quem não sabe o que é isso, trata-se do último ano da faculdade de Medicina quando vamos beber água no saber de nossos mestres para que aprendamos a nos comportar como médicos no novo mundo que se aproxima. Ao passar pelo estágio da pediatria convivi com os grandes: Rudah, Sérgio do Canto, os irmãos Rui e Francisco Wolf e Rudy Goellner, nessa sequência. De todos guardo importantes ensinamentos e amizades. Sempre tive a grandeza de externar meus reconhecimentos aos diligentes professores. Assim fiz com Rudy, que completou sua exitosa passagem no dia 23 de julho. Rudy sempre soube do meu apreço e de minha família por ele e pelos seus. Tornou-se colega de futebol nas peladas de sábados à tarde, colega dirigente da Unimed por algumas gestões e amigo em diversos eventos sociais que envolveram seus filhos, como formaturas e casamentos. Fui agraciado pela família Goellner por afetuosos laços de amizade.
Desde que Rudy adoeceu era eu conhecedor do fim da história por particularidades que me unem a suas filhas pelo espiritismo. Sabia, antecipadamente que perderia a batalha. No entanto, eu não poderia perder a esperança de estar errado e criamos correntes e fortificações para dar sobrevida de qualidade, tudo foi usado pela ciência e não-ciência. O inimigo era mais forte, estava escrito e estava acordado pelo próprio Rudy, antes mesmo de ele nascer, acredita-se.
Essa crônica estava pronta na minha cabeça, mas eu não queria que ele lesse, não queria dar a impressão ao amigo que estava me despedindo. No seu velório percebi que a maioria de seus amigos e admiradores meditava com ternura sobre sua trajetória, pelo seu zelo e humanidade no tratamento a seus pacientes, na maneira exemplar de conduzir sua família, no amor de cinema vivido com Nadir, companheira guerreira e na atenção especial dedicada à Unimed como dirigente, Um cara que deixa as pessoas pensativas pela brilhante execução de suas obrigações é um cara iluminado. Há numa placa na beira de estrada um dizer sobre um motociclista morto recentemente em um acidente de trânsito: Deus viaja comigo e se, por acaso, um dia eu não voltar é porque fui viajar com Deus. Deus está bem acompanhado.
Professor Rudy, estive atento a tua última aula, a derradeira. Foi como ensinou a mim o saudoso professor de Judô, sr Arcildo Leidens que diante do término do existência disse-me: Jorge, o que tiver de ser, será. Tu, também, Rudy, demonstraste a maneira digna de enfrentar o infortúnio, a altivez diante da tragédia pessoal, a demonstração de luta, a coragem e a esperança. Véio, não sei se sou bom aluno, não sei se quando chegar a minha hora serei capaz de tirar dez nesse seu ensinamento. Prometo tentar, como foi ensinado, é o que eu te devo, além de tudo que partilhamos nesses anos todos.
Aguardo teu contato, tão logo seja possível. Bom descanso, véio bom de bola.