Sempre padeci de um conflito intelectual entre minha visão científica do mundo e minha espiritualidade. Quando estudava Filosofia, zapeava entre Metafísica e Fenomenologia. Depois, ao cursar Direito, oscilei entre o direito natural e o direito positivo. A conciliação era difícil.
Esse conflito interior não é originalidade minha. Qualquer ser humano, com razoável inteligência, deve se perguntar se o mundo tem algum sentido, se a consciência é anterior ou posterior à matéria.
Meus talentos me levaram às ciências humanas. Meu gosto pela arte, pela música e pela literatura me puseram no caminho das emoções e não das coisas. De algum modo, fui resolvendo o conflito com alguns princípios da filosofia e com algumas intuições da arte. No espelho me via mais Platão do que Aristóteles. Meu cristianismo é mais Agostinho de Hipona e menos Tomás de Aquino.
Da Arte, especialmente das artes plásticas e da literatura, pesquei para a vida a ideia de que o mundo é construído pelo olhar da gente. Enquanto a ciência procura separar o objeto do sujeito, a arte funde o sujeito com o objeto de tal modo que não se sabe mais o que é um e o que é outro. Manoel de Barros explicou com simplicidade essa diferença: “A ciência pode classificar e nomear os órgãos de um sabiá, mas não pode medir seus encantos”.
Todas essas elucubrações são para lamentar minha descoberta tão tardia de um livro onde encontrei muitas respostas. “O Universo Autoconsciente”, do físico nuclear, de origem indiana, Amit Goswani. Suas ideias foram utilizadas de um modo um pouco sensacionalista nos documentários “O segredo” e “Quem somos nós”. À época, não me chamaram a atenção. Eu o redescobri em uma entrevista ao programa “Roda Viva”. Rodeado por jornalistas céticos, Amit respondeu às perguntas mais complexas com serenidade, razão, clareza e lógica. Percebi estar diante de um cientista procurando resposta para muitas das perguntas minhas.
Sob os princípios da nova física, ou física quântica, Goswami nos leva à conclusão, de que a consciência não é resultado da matéria, mas o contrário. Ou seja, o mundo material não existe sem um observador. Diferentemente da física newtoniana - que vê o mundo como algo independente e separado da consciência, determinado por leis imutáveis-, a física quântica defende que o mundo material depende da consciência, e que o mundo físico é imprevisível. O mais incrível é que estes postulados, próximos às ideias centrais de todas as religiões, nasceram da observação da matéria, em estudos de física nuclear.
Não há dúvida que, para um momento de emoção ao ouvir um sabiá, não preciso entender como funciona seus órgãos internos, e que para apreciar um pôr-do-sol não preciso entender de refração da luz. Findado esse pequeno êxtase, meu estômago exige um bom filé ao molho pardo, e meu coração necessita 40 mg de sinvastatina. Conseguir conciliar essas faces tão opostas da moeda-vida merece um Nobel. É o que desejo para Amit Goswami.