Já é absolutamente comum que quando alguém com um pouco mais de intimidade encontre com uma grávida em estágio mais adiantado – como o meu caso agora, já no sétimo mês – a questione se ela já “escolheu” se vai ter seu filho por meio de parto natural ou cesariana. Agora então com a polêmica sendo discutida em forma de orientação dos serviços de saúde não é de se estranhar que isso aumente muito.
Coloquei o verbo escolher entre aspas porque, mesmo usado pelo senso comum, não concordo com essa forma de considerar. Não acho que a gestante “escolhe” parto ou cesariana. Eu pelo menos não escolhi – e ainda não sei como o Miguel vai chegar ao mundo - e acredito que quem preze pelo filho que está gerando não deva considerar essa uma escolha.
Penso, inicialmente, que a maior parte das mulheres hoje em dia tem acesso ao pré-natal. Ou fazendo-o pelo convênio médico, ou pelo sistema público ou ainda de forma particular. O pré-natal é um momento em que a gestação é discutida, acompanhada de perto por um profissional. Exames são realizados, avaliados e, talvez, medicamentos sejam necessários para tratar eventuais problemas.
Já conversei com minha ginecologista, a profissional que me acompanha desde que eu tinha 16 anos, sobre parto natural ou cesárea. Confio nela e passei a confiar ainda mais quando ela disse que essa decisão não se toma antecipadamente. Já conversamos também sobre os fatores envolvidos em uma gestação onde a mamãe – eu, no caso – está esperando seu primeiro bebê com 34 anos. Por mais que se diga que é jovem, é muito diferente de uma gestante com 20 anos. E isso tem a ver sim com fatores que podem prejudicar o parto, como questões relacionadas ao líquido amniótico ou à dilatação, a placenta ou o cordão umbilical.
Também sei, e já li muito a respeito, que o parto natural é um momento único da mulher, maravilhoso. Protege o bebê a partir do repasse de anticorpos da mãe para o filho, faz com que a recuperação seja mais rápida e a mãe possa amamentar já nas primeiras horas. Enfim, indiscutíveis os benefícios.
O que eu quero dizer com isso é que cada gestação é uma gestação diferente. Compreendo que a cesárea sem indicação médica provoque riscos desnecessários à saúde da mulher e do bebê, mas nesse caso penso que o que deve ser feito é buscar ampliar a conscientização do corpo médico sobre o que é realmente desnecessário.
Sei que o assunto é polêmico e talvez eu só esteja contribuindo para aumentar a discussão. Mas com todo o respeito, na minha opinião, não é a mulher que deve decidir isso. Ou não deveria ser uma decisão ingênua, sem informação, pensando apenas em comodidade, ou medos e achismos. Essa deveria ser uma decisão médica pautada no histórico daquela gestação, em evidências científicas, avaliada absolutamente com o objetivo de melhorar a qualidade de vida do bebê e da mãe, os dois sujeitos mais importantes desse momento.