Os dias ensolarados em todo o Estado, reflexo de uma forte massa de ar seco que atua desde o final do mês de julho, estão garantindo temperaturas elevadas, muito acima das médias esperadas para o mês de agosto. Na Região Metropolitana, por exemplo, foi registrado 35ºC no último final de semana, sendo a temperatura mais alta do mês de agosto desde que as medições começaram a acontecer. Em Passo Fundo as máximas ficaram próximas dos 30ºC e, no sábado (8), os termômetros marcaram 28,7ºC. Historicamente, a temperatura máxima já registrada no mês de agosto, no município, foi de 31,4ºC.
A previsão é de que a sensação de abafamento siga intensa em todo o Estado até o próximo fim de semana. Nesta terça uma frente fria se aproxima do Rio Grande do Sul, trazendo instabilidade principalmente na Região Oeste, porém, as temperaturas continuam elevadas. Em Passo Fundo, nesta terça-feira, o tempo permanece estável e os termômetros devem marcar entre 15ºC e 27ºC. A mudança deve ocorrer apenas no sábado (15), quando a previsão indica que uma frente fria se aproxima. Com o retorno da chuva, o frio também deve aparecer na próxima semana, deixando o mês com cara de inverno – como deveria ser.
El Niño
O calor fora de época que deu cara de verão ao início de agosto é resultado da atuação do El Niño no país. O meteorologista Gilberto Cunha explica: “estamos passando por um inverno que tem as características dos chamados 'Eventos El Niño', configurado de uma forma intensa neste ano. Com a influência do fenômeno, nos anos em que ele ocorre, é comum que as temperaturas fiquem mais elevadas, assim como a quantidade de chuva”, pontua Cunha. O El Niño é um fenômeno causado pelo aquecimento das águas do Pacífico além do normal e pela redução dos ventos alísios na região equatorial. “Os modelos de previsão climática indicam a atuação do fenômeno El Niño pelo menos até o final do verão de 2015/2016. Assim, no trimestre agosto, setembro e outubro espera-se um comportamento de precipitação típico para este tipo de evento, com chuvas acima da normal no extremo oeste da Região Norte e na maior parte da Região Sul do Brasil”, informou o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climatológicos (Cptec). Cunha também ressalta que, além da atuação do fenômeno, o clima quente é consequência também da massa de ar quente que está dominando o continente”, afirma.
Inverno ainda não terminou
A elevação das temperaturas nesta primeira quinzena de agosto não concluem que não haverá mais frio. Conforme Cunha, o frio deve retornar para o Estado a partir da próxima segunda-feira, dia 17. “As temperaturas altas são característica dos anos de El Niño, mas isso não significa que o inverno já acabou. As temperaturas baixas chegarão depois da chuva, com a entrada de uma massa de ar polar”, aponta o meteorologista.
Doenças respiratórias
Que o frio favorece o surgimento de problemas respiratórios e a primavera agrava os sintomas que afetam, principalmente, olhos, nariz, garganta e pulmões, todo mundo já sabe. Entretanto, neste ano, as grandes variações térmicas também estão contribuindo para a manifestação de algumas doenças. De acordo com a médica alergista e imunologista Melissa Tumelero, o clima propicia a polinização e ela é quem desencadeia as alergias sazonais, causadas pelo pólen. “O calor poliniza e o vento espalha o pólen, por isso, nestes dias, os sintomas das doenças respiratórias têm aparecido mais”. A médica aconselha quem sofre com os problemas: “para quem tem alergia do polén, deixar a casa mais fechada é uma alternativa. Além disso, as pessoas devem evitar fazer caminhadas no início da manhã e final da tarde, beber muita água e, claro, usar medicação preventiva, que evitam as crises”, explica a médica
Calor antecipa ciclo das culturas de inverno
Se a grande incidência de chuva tirou o sono dos agricultores no início da safra de inverno deste ano, a preocupação agora é com o calor. As altas temperaturas registradas no mês de agosto no Rio Grande do Sul anteciparam em pelo menos 15 dias o processo reprodutivo das culturas de inverno. O trigo já se encontra no ciclo reprodutivo e a canola em fase de floração ou formação de grãos em algumas lavouras. Engenheiro agrônomo da Emater Municipal, Adriano Nunes de Almeida, afirma que a aceleração do ciclo coloca em risco as lavouras caso ocorra alguma geada. “Apesar do calor, ainda estamos no inverno, período propício para geadas. Se acontecer, poderá trazer prejuízos porque a planta está em uma fase bastante sensível”, alerta o especialista, lembrando que em 26 de setembro de 2011 ocorreu a queda de geada no mês de setembro.
Chuva
A lavoura vive um momento oposto ao início da safra. A quantidade de chuva registrada nos meses de junho e julho, acelerou o surgimento precoce de algumas doenças. Atualmente, a preocupação é com a estiagem que se estende desde o início do mês de agosto. “Para o trigo e a canola não é tão prejudicial. O problema maior é com as pastagens. Sem água, a planta para de crescer e entra em estado vegetativo. Se não chover esta semana, o solo começa a ficar com baixo teor de umidade e a situação pode complicar” observa.