OPINIÃO

Dinossauros

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Meus antigos comparsas cruzaltenses, sessentões, criaram um grupo no face denominado Dinossauros do Campinho que se refere aos amigos que cresceram jogando bola na Avenida Benjamin Constant entre as décadas de 1960-70. Essa avenida era um descampado até que o prefeito José Wesphalen Correia resolveu urbanizá-la, acho que em 1967. Então, entre o antigo Cine Rio e a saída para Ijuí, numa extensão de aproximadamente 1 km, houve generosa arborização, plantação de flores bem em frente ao dezessete, quartel da antiga infantaria onde cresci e por onde enxergo ainda meu orgulhoso pai, fardado. Havia, também, um quarteirão que era um campinho onde tentávamos exercer a arte do futebol, tipo Pelé-Garrincha. Nesse local, o prefeito construiu uma quadra de futebol substituindo a grama por areia. Cercou e iluminou o local e, ali, montamos dois times: o Avenida A e B. Eu tentava vaga no time B, juntamente com meu irmão Renato, vulgo Pata. Além disso, transferiu para ali a Escola Municipal Carlos Gomes, onde comecei a estudar quando seu endereço era na Rua Marechal Floriano e uma biblioteca municipal, onde o esse signatário lia La Fontaine, Malba Tahan, as Mil e Uma Noites e Gibran Khalil Gibran. Na Escola Carlos Gomes me apaixonei aos seis anos por Maria da Graça que tinha sete e que me prometera casar-se comigo.

O mundo era ali, a gente jogava freneticamente, chuva-sol, a geografia era fácil de ser memorizada, Camboriú ficava atrás do Cine Rio e a Argentina ficava para o lado do Nino Cunha, saída para Ijuí ou para As Macacas ou Boite Kilimandjaro (zona, digamos assim, de encontros românticos fortuitos e regiamente pagos, é claro).

O mundo era assim, tocava na Rádio Cruz Alta, chamada simpaticamente por nós de Rádio Cachaça, Roberto, Fevers, Incríveis, Golden Boys, Renato e seus Blue Caps e Evaldo Braga. Os bailes de carnaval frequentados pelos adultos mereciam a Banda-Orquestra do Vidal. Quando a gente ía ao futebol na Taba (Guarani), na Montanha (Nacional) ou no Riograndense, torcia para os jogadores oriundos do exército: Lino Ceretta, o maior goleiro da história de Cruz Alta, sargento Mattos, Peri e Gostoso, que também era goleiro. A gente queria jogar como eles, artistas.

Meus amigos dinossauros postam fotos e carregam mensagens. Fico em desvantagem absoluta porque há mais de quarenta anos perdi a convivência. Porém, cada vez gosto mais dos velhos comparsas. Iremos ter novo encontro em setembro para o surrado mar de lágrimas regado a água mineral sem gás, é claro. Não se trata de saudosismo porque dizem que quando crianças a gente sabe tudo e quando adultos nada sabemos (Erasmo Carlos). Eles têm razão, na época da inocência a gente sabe o que é bom na vida - ser feliz, tal qual os dinos foram um dia, inocente-intensamente.

 

 

 

 

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