Na ponta do dedo o professor Everton de Souza, 40 anos, vai conferindo as palavras escritas em braile pelo aluno Felipe da Luz, 29 anos. Acadêmico do último semestre da faculdade de biologia, ele decidiu participar do Curso de Acessibilidade de Recursos Pedagógicos como complemento de sua formação para futuramente trabalhar em sala de aula com alunos especiais. “A inclusão está em evidência, temos de estar preparados” avalia o estudante, que já leciona nas séries iniciais da escola municipal de ensino fundamental Urbano Ribas.
Desenvolvido pela Associação Passo-fundense de Cegos (APACE), em parceria com prefeitura municipal e Universidade de Passo Fundo, o curso de 80 horas, realizado uma vez por semana, no prédio da faculdade de medicina da UPF, oferece aos professores da rede municipal a alfabetização no sistema braile, orientação, mobilidade e desenvolvimento da aprendizagem, com produção de material pedagógico e contação de história adaptada. A turma é formada por seis alunos.
Responsável pela alfabetização, Everton afirma que ao final das 28 horas de sua disciplina, o professor está apto a ler, escrever e transcrever no método braile, inclusive, reconhecendo símbolos e representações matemáticas. Formado em pedagogia pela UPF, ele sabe da importância de ensinar o método para as séries iniciais. “Tenho baixa visão, fiz minha faculdade utilizando o braile e também um programa de computador com áudio. É fundamental trabalhar com as crianças. A inclusão ocorre mais cedo” observa.
Para conhecer melhor a realidade do aluno com deficiência visual, os professores passam por alguns exercícios. Um deles consiste em tentar praticar as primeiras noções da escrita com os olhos fechados. Também confeccionam materiais que auxiliam o aprendizado na chamada fase de pré-braile. “Após estas dinâmicas iniciamos a alfabetização propriamente dita. Eles aprendem visualmente, obervando as letras, portanto, bem mais rápido que o tátil” diz Souza
Com a utilização do pulsor e do reglete (espécie de régua), os professores vão aos poucos registrando na folha sulfite 60 as primeiras palavras. Lecionando há 11 anos, a professora Juliana Alves Gomes, 39, especializada em pedagogia inclusiva, já consegue reconhecer algumas letras com a sensibilidade dos dedos. “É dever do professor se especializar, acho que todos deveriam passar por uma formação como esta. Muda a forma de trabalhar em sala de aula. A prefeitura encaminhou kits com material em braile para as escolas, mas não está sendo aproveitado por falta de conhecimento. Temos que abrir a mente o buscarmos o conhecimento” afirma.
Professora de matemática nas séries finais da escola Nossa Senhora Aparecida, Marines Escaravonatto decidiu participar das aulas como complemento do curso de educação especial a distância. “Aqui estou constatando que na prática é muito diferente. Como eu não tive a base do magistério, para mim é mais difícil. Mas está sendo muito interessante” comenta.
Monitor na escola Etelvina Rocha Duro e acadêmico da faculdade de geografia, o jovem Cristian Guilherme Lino, 18 anos, soube do curso através da formação mensal dos monitores e não deixou passar a oportunidade. “Sempre soube que seria professor. Quero estar preparado para trabalhar com as crianças em sala. O curso está sendo ótimo, tanto a teoria como a prática” avalia.